Introdução
O diplomata e historiador brasileiro Manoel de Oliveira Lima foi também um jornalista e escritor prolífico, publicista dedicado em sua missão de divulgação internacional do Brasil, conferencista e professor, além de um devotado bibliófilo. Entre os diversos temas de que tratou em seus escritos e conferências no Brasil e no exterior, destacam-se aqueles relacionados às relações internacionais e, mais especificamente, a politica externa brasileira. Sua carreira diplomática coincidiu com a Era Rio Branco (1902-1912), quando a sombra do Barão se fazia sentir em todos os aspectos da pasta dirigida por ele. Foi contemporâneo também de Joaquim Nabuco (1849-1910), que depois de consagrado herói da Abolição inaugurou um novo capítulo na sua vida pública ao aceitar o cargo de Embaixador do Brasil nos Estados Unidos em 1905. Estes três personagens foram centrais no debate sobre os rumos da diplomacia e da politica externa brasileira do seu tempo, entretanto, o lugar destinado a eles na historiografia do período é muito diferente.
Manoel de Oliveira Lima foi um “torpedo diplomático” que sofria de uma irremediável “incontinência da pena” nas palavras de Joaquim Nabuco. Suas tomadas públicas de posição lhe renderam a fama de diplomata indisciplinado, especialmente por tantas vezes discordar veementemente do seu chefe no Itamaraty, o poderoso Barão do Rio Branco (1845-1912). Seu rompimento com Joaquim Nabuco, mais tarde, ajudou a consolidar a imagem de um homem difícil, cujo ego era tão grande quanto sua rotunda figura. Um “Dom Quixote gordo” aos olhos de Gilberto Freyre, foi um polemista convicto e defensor empedernido da sua independência de opinião, chegando até as raias da intransigência e possivelmente do bom senso em algumas ocasiões. Foi com esta postura que o diplomata pernambucano conquistou admiradores fieis quase na mesma medida em que granjeou inimigos e desafetos ao longo da vida.
Como consequência, seu legado não escapou incólume. Apesar de entre os contemporâneos ter sido considerado um substituto à altura tanto de Rio Branco no Ministério das Relações Exteriores, quando de Nabuco na Embaixada em Washington, ele não conquistou um lugar de honra no panteão dos grandes nomes do Itamaraty. As diversas polêmicas que cultivou durante a carreira certamente também contribuíram. Entre os rótulos que se fixaram em Oliveira Lima devido a declarações suas, seja em entrevistas ou em textos publicados, estão os de monarquista, germanófilo e antiamericano. Sobre cada um deles cabe um estudo mais aprofundado e inúmeras ponderações. Neste artigo, o último deles é que será abordado, buscando realçar as diferenças no seu posicionamento sobre os Estados Unidos em relação a Nabuco. Estas diferenças tornaram-se tão profundas que levaram ao rompimento definitivo entre os dois amigos de longa data.
A comparação entre Oliveira Lima e Joaquim Nabuco é frequente, especialmente para contrapor suas visões sobre as relações com os Estados Unidos. Silveira (2003) analisa as representações discursivas elaboradas por Nabuco e Oliveira Lima e que cumprem a função ideológica de conferir sentido ao processo de americanização da política externa brasileira. Borges (2007) compara as posições acerca do Pan-americanismo de Oliveira Lima e Joaquim Nabuco entre 1899 e 1907 e busca entender o papel que este tema teve no processo de ruptura entre os dois. Sousa (2013) comparou os autores com o objetivo de compreender o que chamou de seu “pensamento internacional” entre as décadas de 1890 e 1910.
A partir da leitura destes e outros vários estudos se forma uma imagem clara de Oliveira Lima em contraposição a Nabuco quando se trata da opinião sobre os Estados Unidos e o pan-americanismo. Lima surge assim, como “crítico implacável” da Doutrina Monroe (Silva 2008, 139), incluído “dentre os críticos mais combativos do pan-americanismo” (Baggio 1998, 68) e até como um dos “que sustentavam convicções anti-imperialistas”1 (Silva 2008, 77). A classificação feita por Baggio (1998) é amplamente aceita entre estudiosos deste que foi um dos temas mais importantes do debate intelectual na virada do século no Brasil. Com algumas variações, a grosso modo tem-se cristalizado um esquema que separa de um lado os principais críticos da política expansionista dos Estados Unidos, Eduardo Prado, José Veríssimo, Manuel Bomfim e Oliveira Lima. E de outro, os defensores do Pan-americanismo, Joaquim Nabuco, Artur Orlando e Euclides da Cunha. À primeira vista, a interpretação amplamente aceita de que Oliveira Lima sustentava opiniões que poderiam ser classificadas como antiamericanas faz todo o sentido, especialmente porque grande parte das análises está focada no seu livro Pan-americanismo (Monroe, Bolívar, Roosevelt) (1907).Entretanto, uma análise mais ampla da obra de Oliveira Lima, o que emerge é um quadro muito mais complexo. Aparecem as redes sociais e institucionais em que Lima esteve inserido e como estas influenciaram sua percepção sobre os Estados Unidos de forma geral e sobre tópicos relacionados relevantes, como o Pan-americanismo e a Doutrina Monroe. (Henrich 2016). O seu primeiro livro sobre os Estados Unidos, fruto das suas observações quando lá residiu entre 1896 e 1899, Nos Estados Unidos. Impressões Politicas e Sociaes (1899), revela um autor totalmente seduzido pelo progresso material e moral do país, convencido da sua boa vontade na arena internacional e simpático a sua nascente política colonial.
A impressão de que existe simplesmente uma dicotomia entre estas duas visões, de Nos Estados Unidos... e de Pan-americanismo..., e de que se poderia classificar o pensamento de Oliveira Lima em duas fases, porém, é falsa e não resiste a uma análise que inclua textos menos conhecidos e poucas vezes levados em consideração - textos de imprensa, livros, panfletos e conferências. Estas fontes revelam que não se tratava apenas de uma mudança na visão de Oliveira Lima sobre os Estados Unidos - de “pró” a “anti” - mas sim de um processo lento e gradual, não linear, de produção de respostas a acontecimentos da política doméstica e internacional dos Estados Unidos, influenciadas também pelas suas relações internacionais. É dentro deste processo que se pode observar como, após o seu período mais crítico do acercamento do Brasil com os Estados Unidos representado em Pan-americanismo..., Oliveira Lima acaba retomando a esperança pelo projeto pan-americanista expressada em Nos Estados Unidos... a partir de 1912, quando volta ao país como professor em Stanford e empreende uma longa viagem palestrando por diversas universidades. Esta “redescoberta” do Pan-americanismo esteve fortemente influenciada pelo ambiente acadêmico norte-americano, além de um clima de otimismo pelo futuro das relações internacionais e da influência moralizadora dos Estados Unidos gerado pela eleição de Woodrow Wilson. O contexto da Primeira Guerra mundial teve um impacto profundo na sua percepção das relações internacionais e do papel dos Estados Unidos no continente e no mundo. Seu contato com instituições pacifistas e internacionalistas, como a Carnegie Endowment for International Peace, a Sociedade Americana de Direito Internacional e a União Pan-Americana também atuaram neste sentido. Foram estas instituições e seus membros os responsáveis pela sua volta aos Estados Unidos como professor em Harvard em 1915 e, indiretamente, pela sua mudança definitiva para Washington em 1920, onde fixaria residência. Uma vez estabelecido na capital norte-americana, Oliveira Lima segue em contato com o que podemos chamar de “meios pan-americanistas” - pessoas e instituições - e no contexto posterior a Primeira Guerra Mundial, segue defendendo o papel dos Estados Unidos como uma liderança moral para o mundo até mediados da década de 1920.
O objetivo desta digressão é estabelecer que se é certo que Oliveira Lima foi por vezes extremamente crítico dos Estados Unidos e seu papel no continente, especialmente durante a presidência de Theodore Roosevelt e após o postulado do seu Corolário homônimo em 1904, o rótulo de antiamericano não se sustenta após uma análise mais aprofundada da sua obra. (Henrich 2016). Estas posições críticas foram as mais amplamente divulgadas, registradas na obra Pan-americanismo, uma compilação de textos escritos no calor dos preparativos, durante e imediatamente depois da III Conferência Pan-americana do Rio de Janeiro, realizada em 1906. Em última análise, foram estes textos os causadores do desentendimento com Joaquim Nabuco. O impacto do debate entre dois dos mais eminentes homens públicos do Brasil foi enorme entre os contemporâneos e acabou marcando os posicionamentos antagônicos naquele momento como se fossem a palavra definitiva sobre o assunto. No caso de Oliveira Lima isto significou a pecha de antiamericano que o acompanharia. Ao mesmo tempo, o peso excessivo dado a esta obra por pesquisadores ajudou a consagrar essa interpretação, corroborada quase sempre pela comparação com Nabuco. Ao fixá-los em polos absolutamente opostos, frequentemente com o Barão do Rio Branco como fiel da balança, exacerba-se o suposto antiamericanismo de Oliveira Lima, mas pouco se fala de um possível excesso de Nabuco. Não se trata de negar que haviam divergências, mas sim de “calibrar” o lugar destinado a cada um nesta espécie de escala de antiamericanismo em que eles foram colocados.
Neste artigo, será analisado o contexto em que se deu o rompimento entre Joaquim Nabuco e Oliveira Lima e seus antecedentes. Além disso, busca-se evidenciar como o desenlace marcou a imagem de Oliveira Lima como figura difícil, diplomata rebelde e, ultimamente, como antiamericano. Ao fazer um breve histórico do relacionamento entre os dois diplomatas, realçando ao menos um outro episódio em que estiverem em franca oposição, mas mantiveram uma relação amigável que inclusive se intensificou posteriormente, demonstra-se que a ruptura definitiva se deu em grande medida não por diferenças ideológicas irreconciliáveis, mas pelo que Nabuco entendeu como um ataque do amigo ao seu legado como Embaixador nos Estados Unidos.
Um “botão de jornalista” conhece o chefe do Partido Abolicionista
Entre 1880 e 1881 Joaquim Nabuco estava de passagem pela Europa e foi acolhido com entusiasmo por simpatizantes do movimento abolicionista em Portugal, Espanha, França e Inglaterra. Em Lisboa foi recebido na Câmara dos Deputados Portuguesa, graças em parte ao empenho do conterrâneo Pedro de Araújo Beltrão, que neste momento servia na Legação do Brasil no país. Araújo Beltrão era um abolicionista convicto que como membro da Assembleia Provincial de Pernambuco foi protagonista de um episódio que se tornou um marco no movimento abolicionista pernambucano e nacional. Em sessão de 1869, antecipando-se, portanto, a Lei do Ventre Livre de 1871, classificou a escravidão como uma “aberração de todas as leis naturais” e anunciou que concederia a liberdade de ventre a todas as suas escravas, no que era seguido por sua família. (Costa 1891, 262). Sua atitude era sempre relembrada com orgulho pelo cunhado, um adolescente de 13 anos na época da visita de Nabuco, Manoel de Oliveira Lima.
Oliveira Lima era em muitos aspectos um menino precoce, que já frequentava a Legação comandada pelo Barão de Japurá onde Araújo Beltrão foi nomeado Adido de 1a classe em 1877 e lá teve o começo do seu aprendizado diplomático. (Lima 1986, 71). Ele mantinha uma relação muito próxima com o cunhado que atuou como uma espécie de mentor nos assuntos profissionais e com quem partilhava posições políticas, entre elas, a defesa da causa abolicionista. Não surpreende, assim, que tenha acompanhado de perto o passo de Nabuco pela capital portuguesa. Foi durante a visita a Lisboa que um jovem Oliveira Lima foi apresentado ao já célebre Joaquim Nabuco em um encontro que serviu para fazer crescer a admiração que nutria pelo parlamentar. (Gouvêa 1976, 81).
No ano seguinte, quando Nabuco retira-se para Londres desgostoso com a derrota no Parlamento da sua proposta de estabelecimento de um prazo para abolição da escravidão, Oliveira Lima presta-lhe uma homenagem no Correio do Brazil, Revista Mensal, primeira publicação em que “ensaiou a pena" aos 14 anos. (Lima 1986, 14). A edição n. 4, de 28 de setembro de 1882, trouxe vários perfis de brasileiros ilustres, Dom Pedro II, Visconde do Rio Branco, Araújo Beltrão e Joaquim Nabuco. “Quem não conhece no Brasil esse mancebo tão justamente célebre pelas suas nobres e avançadas ideias?” pergunta-se Oliveira Lima (1882, 5-6), deixando evidente toda sua admiração pelo “talentoso advogado e inspirado tribuno”. Não faltam menções a “impetuosidade do seu fogoso caráter” nem aos seus “brilhantíssimos discursos, onde se refletem toda a nobreza e honradez do seu caráter”. O breve, mas eloquente texto termina com um “bravo sincero” a Nabuco pelo “seu sempre leal e exemplar procedimento com respeito a sublime luta pela emancipação dos escravos, a questão mais grave que atualmente ocupa o Brasil na sua qualidade de nação liberal e civilizada!”.
Tocado pela homenagem, Nabuco escreveu a carta que inauguraria a sua correspondência com Oliveira Lima:
Acham-me para político moço demais; o que dirão porém quando virem que o meu biógrafo é um jornalista da sua idade? O seu juízo a meu respeito é apenas uma tradução da sua simpatia. Mal sabia eu que, no menino que me dava todas as notícias da última hora, estava um botão de jornalista a desabrochar a toda pressa voltado para o sol da pátria! (Carta de Joaquim Nabuco a Oliveira Lima, 14/10/1882, Nabuco; Nabuco, 1949, p. 75).
As palavras de Nabuco sobre a publicação foram gentis e encorajadoras: “Acho muito bem feita toda a parte noticiosa do periódico e se essa fosse desenvolvida e os intervalos da publicação certos e mais curtos, o seu jornal podia dar as últimas notícias do Brasil aos brasileiros na Europa”. O Correio do Brazil, entretanto, teve vida curta. Mas a atuação na imprensa não parou por aí. Oliveira Lima estreou profissionalmente escrevendo artigos para o Jornal do Recife logo depois, em 1885, e seguiu com a colaboração em O Repórter, gazeta lisboeta dirigida por Oliveira Martins e depois em Le Brésil, de Paris. Assim, quando concluiu o Curso Superior de Letras em 1887 Oliveira Lima já tinha considerável experiência na imprensa e gozava de certa visibilidade no meio intelectual português. Depois de um breve período como secretário da Sociedade de Beneficência Brasileira em Portugal, iniciou sua carreira diplomática em 1891 ao ser nomeado Segundo Secretário da Legação brasileira em Lisboa.
Monarquia, República e a intervenção dos Estados Unidos na Revolta da Armada
Oliveira Lima desembarcou em Washington em maio de 1896 após uma longa viagem rumo ao primeiro posto diplomático fora da Europa. Trazia latente o fervor republicano da juventude e aos poucos meses da sua chegada publicou dois artigos na revista francesa Nouvelle Revue, que foram publicados em separata para divulgação com o título de Sept ans de République au Brésil (Lima 1896). O opúsculo de 38 páginas consiste em um balanço dos primeiros anos da República e uma defesa do regime, especialmente frente ao público internacional. O primeiro embate de ideias entre Nabuco e Oliveira Lima se deu exatamente sobre o papel dos Estados Unidos na Revolta da Armada (1893), tendo como pano de fundo posições políticas antagônicas, um entusiasmado republicano e um monarquista convicto.
Os primeiros anos da República brasileira não haviam sido tranquilos. Além dos ajustes institucionais necessários ao funcionamento do país, dos complicados acordos e negociações políticas que o sustentariam, o novo regime teve que enfrentar momentos que chegaram a colocar em risco a sua estabilidade, como a Revolução Federalista, a Revolta da Armada e a Guerra de Canudos. A ainda recente Abolição fazia sentir seus efeitos sobre a organização econômica e social do país, a inflação, o aumento do custo de vida, a desorganização e sensação de caos causavam insatisfação em certos setores da população e davam munição para a propaganda antirrepublicana de autores como Eduardo Prado e o Visconde de Ouro Preto. Neste sentido, Sept ans de République au Brésil está em diálogo direto com as ideias de Prado, funcionando como uma resposta republicana aos seus planos de Restauração.
O diálogo com Nabuco é também constante no texto e deixa claro o antagonismo das suas posições sobre o sistema de governo. O monarquista e líder da causa abolicionista é caracterizado agora por Lima como um “simples boneco” que obedecia a sugestão de uma “camarilha de maníacos e ambiciosos”. (LIMA, 1896, p. 34). A intervenção dos Estados Unidos na Revolta da Armada era o ponto central da divergência. A questão não se tratava apenas de um embate entre os defensores da República e os que propunham a Restauração da Monarquia, mas também entre os aliados estrangeiros das duas causas, representados pelos Estados Unidos e pelas potências europeias, respectivamente. Neste cenário, a mobilização da Doutrina Monroe por Salvador de Mendonça, Ministro brasileiro na Legação em Washington, para embasar seu pedido de auxílio aos Estados Unidos, pôs mais fogo na discussão sobre a violação da soberania nacional. Joaquim Nabuco condenava a intervenção e lhe dava todo o crédito pela vitória governista no conflito. Nabuco (1896) tratou do tema em vários artigos na imprensa que depois reuniu no volume A intervenção estrangeira durante a revolta de 1893. Na obra defende que a intervenção estrangeira foi um dos principais elementos para a vitória alcançada pelo Marechal Floriano Peixoto, mas não houve consenso nem entre quem estava do mesmo lado. Rui Barbosa, ainda que defensor da República, não apoiava a intervenção, que considerava um perigoso precedente de violação da soberania nacional, e expressou suas reservas quanto ao monroísmo. Já Oliveira Lima (1896, p. 35) em Sept ans... defende e justifica a intervenção na Revolta, mas, respondendo a Nabuco, busca exaltar o papel importante do governo brasileiro no episódio e não dá à intervenção norte-americana um peso decisivo no resultado final do conflito.
Apesar de estarem em lados opostos, a admiração de Lima por Nabuco e até a boa relação entre os dois se mantinha. Nabuco enviou um exemplar autografado de A intervenção... para Oliveira Lima, que retribuiu com uma cópia dos artigos da Nouvelle Revue. Apesar das palavras duras trocadas nos respectivos textos, o diálogo seguia aberto. Nabuco não esconde sua opinião sobre a república ardentemente defendida pelo jovem diplomata.
Infelizmente o seu espírito sofre do mal oposto ao que me atacou, o seu otimismo é tão doentio como o meu pessimismo, ainda que sua doença seja mais alegre e divertida do que a minha. A república é a liquidação nacional. O mais que os republicanos podem dizer é que a decadência irremediável em que entramos, tão irremediável como a do Peru ou da Espanha não é uma questão de instrução, mas de raça. Isto talvez eu admitisse, acrescentando, porém, que as instituições influem também, a monarquia como freio e a república como impulsor. (carta de Joaquim Nabuco a Oliveira Lima, 28/11/1896 citada por BORGES, 2007, p. 86).
Lima dá sequência ao intercâmbio epistolar, lamentando que homens do valor de Nabuco estivessem afastados da política2 e assevera que ele seria muito útil à pátria se aceitasse o fato consumado que era a República e se dispusesse a prestar seus serviços. Reafirmava ainda o seu otimismo: “Confio, contudo, no futuro do nosso Brasil, posto que não adivinhe a direção e condições de sua evolução q. apenas se anuncia. Do que padecemos é de atraso moral, intelectual, político e material”. (Carta de Oliveira Lima a Joaquim Nabuco, 19/01/ 1897 citada em Gouvêa, 1971, p. 293-294). Na mesma carta, afirma que os Estados Unidos eram um belo exemplo a seguir em muitos pontos.
A relação se mantinha cordial, apesar da divergência, mas era ainda bastante formal. A aproximação entre os dois se daria um pouco mais tarde quando coincidiram trabalhando na Legação do Brasil em Londres. Devido a desentendimentos3 com o novo chefe, Assis Brasil, de quem chegou a dizer que “não passa de um gaúcho presumido, preguiçoso e ambicioso” que só pensava em ser Presidente da República, Oliveira Lima foi removido para Londres em 1900. (LIMA, 1937, p. 168). Em contraste, Lima recordaria o breve período em Londres como “um dos melhores capítulos da minha vida diplomática” e Souza Corrêa como “o chefe com quem era mais agradável trabalhar.4 A harmônica convivência terminou abruptamente com o falecimento de Souza Corrêa poucos meses depois. Foi neste período que estreitou relações com Nabuco, que estavam em missão extraordinária para tratar da questão de limites com a Guiana Inglesa. Um grupo reduzido emulava os chás da roda da Livraria Garnier por iniciativa de Nabuco e foi assim que Lima aderiu aos hábitos e rituais dos acadêmicos mesmo antes de ser aceito oficialmente na Academia Brasileira de Letras: “Estamos aqui com excelente roda, roubada à Revista e à Academia. Às cinco horas, reúnem-se em volta do bule do chá o Nabuco, Graça Aranha, Eduardo Prado e outros”. (Carta de Oliveira Lima a Machado de Assis, 19/9/1900 citado por MALATIAN, 1999). Era também costume seu após o fim do expediente ir em companhia de Nabuco recorrer antiquários e pequenos sebos londrinos. Era motivo de orgulho para Oliveira Lima ter sido o responsável por introduzir em Nabuco o gosto pelos livros velhos. (Lima 1986, 186).
Mesmo quando uma promoção logo o levou para bem longe de Londres, Oliveira Lima e Joaquim Nabuco seguiram mantendo uma ativa correspondência. Partia a contragosto e com saudades antecipadas do grupo de amigos brasileiros que havia formado e dos dias de trabalho no Museu Britânico para assumir o posto de Encarregado de Negócios no Japão em 31 de dezembro de 1900. Era a Nabuco que confidenciava seus medos e as incertezas do que lhe esperava no desconhecido país. Entre eles estava o horror à possibilidade de ele e a esposa ficarem “calvos e danados”:
Eu bem dizia que o Japão devia ser uma grande porcaria e bem começo a crer [...] que os estrangeiros que dizem maravilhas desse arquipélago são assalariados pelo Governo do Mikado e fazem obras de encomenda, preparatórias de empréstimos. Imaginem, terra de terremotos, beribéri & outras pestes, calvície repentina, hidrofobia, imundície, excessos de temperatura, etc., etc. Ai de nós! (Gouvêa 1976, 379).
Nabuco confidente e mediador
Finda a missão no Japão, outro desafio se apresentou a Oliveira Lima. E foi novamente em Nabuco que ele buscou apoio e conselhos. Quando os rumores do movimento diplomático iniciaram após a posse de Rio Branco no Itamaraty em 1902, Lima mobilizou toda sua rede de contatos para evitar a nomeação para o Peru. “Não me acusa a consciência de haver feito tanto mal que deva de justiça ser escolhido para correr todas as Legações distantes e exóticas”, queixava-se. Seu objetivo era ir à Europa, onde teria um ambiente intelectual estimulante e os meios para retomar as pesquisas paradas durante o período em Tóquio. (Lima apud Gouvêa, 1976, p. 423).
Rio Branco, porém, não cedeu aos apelos dos amigos em comum e a nomeação oficial saiu. É bom recordar que a nomeação para o Peru era a primeira feita por Rio Branco na carreira de Oliveira Lima, quando os dois desfrutavam de boas relações, o que descarta a ideia de uma retaliação. Oliveira Lima provavelmente tenha ficado animado quando Joaquim Nabuco (1949 b, II:86) lhe escreveu em 24 de setembro de 1902: “Já agora não é novidade que o Rio Branco aceitou a pasta e será o nosso chefe”. Diante da hesitação inicial de Rio Branco, Nabuco trabalhara para convencê-lo5 a voltar ao Brasil, inclusive afastando a possibilidade dele mesmo aceitar o posto, como chegou a rumorar-se.6 Por isso, ao saber que o Cônsul em Liverpool havia aceitado ser o novo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Nabuco o felicitou expressando grande contentamento: “sinto-me rejuvenescer de entusiasmo com a sua entrada para os negócios”. (Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 127-131). Era com o mesmo entusiasmo que ele assegurava a Oliveira Lima que “Rio Branco [estava] convencido do seu mérito” e lhe dava esperanças de que com o novo chefe sua carreira só seria beneficiada. “O sr. é um dos primeiros, e eu lhe desejo somente saúde e vigor para gozar das suas ‘boas fortunas’”. (1949b, II:86).
A nomeação para o Peru, porém, apagou o otimismo de Oliveira Lima, que não perdoou o Barão pelo que considerava um castigo injusto. Sem serem íntimos, os dois haviam mantido até então uma cordial relação baseada principalmente na colaboração para seus respectivos estudos. Nabuco atuou como mediador, aparando arestas e tratando de estabelecer a paz. Por um lado, dizia sentir “muito que o Rio Branco o tivesse desgostado (inutilmente, ainda mais)” mas, por outro, afirmava não ter “dúvida de que o fêz sem pensar magoá-lo”. Expressava seus “votos [são] que esse incidente se resolva do modo mais feliz” e aconselhava ao rancoroso Oliveira Lima: “Não se abandone a esse sentimento”. (Carta de Joaquim Nabuco a Oliveira Lima, 25/12/1903 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 155). Por fim, dá um conselho que ele mesmo não seguiria mais tarde:
Homens como o sr. e êle devem ter sempre a solidariedade da sua própria culminância. É preciso relevarmos os procedimentos menos corretos para conosco daqueles com quem temos de cooperar no interesse do país, seja, como é o seu caso, na mesma carreira ou na mesma obra, isto é, na diplomacia e na história do Brasil. Aí está o meu sincero e leal sentimento.
Lima não se convenceu das boas intenções do Ministro e como última estratégia resolveu postergar o máximo possível sua chegada ao Brasil enquanto ainda tentava reverter a nomeação. Nabuco tentou dissuadi-lo e se mostrava preocupado: “sua demora aí está me inspirando receios e tenho muito medo de alguma intriga entre dois amigos que se deveriam fazer recíproca justiça”. (Carta de Joaquim Nabuco a Oliveira Lima, 25-12-1903 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 155).
A rebeldia de Oliveira Lima certamente não agradou o chefe que, percebendo sua intenção, tratou de apressar a viagem através de um telegrama que só aumentou a sua má vontade. Mais uma vez, Nabuco tentava tranquilizar o amigo, explicando que “Rio Branco dá grande importância à questão do Peru e como êle é da diplomacia ativa e imediata está nervoso com a falta de um ministro no Peru da confiança dele”. Também esclarecia que “o prazo que êle tem pelo acordo com a Bolívia é muito curto e vejo que tomará parte nas negociações o ministro do Peru”. Mas o telegrama havia soado como uma ameaça, o que desgostou Lima profundamente. Nabuco lhe advertia que esta era apenas fruto da urgência do problema e que ele estava “vendo no telegrama uma descortesia pessoal, que absolutamente não existe”. Para ele “evidentemente há outro modo de ler o telegrama. O seu não me parece o correto. É um apelo forte, mas é somente um apelo”. E voltava a reconfortá-lo, afirmando que Rio Branco “conhece o seu mérito, e se tem favoritos, o sr. é um dos primeiros. A sua infelicidade neste caso é ser capaz”. (Carta de Joaquim Nabuco a Oliveira Lima, 27/05/1904 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 165).
Os esforços de Nabuco foram em vão e de fato, como ele previa, os rancores cresceram dos dois lados, insuflados por amigos e inimigos em comum através de cartas que demoravam a chegar, piorando uma situação que talvez pudesse ter sido contornada. Assim, quando o casal Oliveira Lima chegou ao Brasil, o clima de prevenção já estava instalado. Ofendido, Oliveira Lima não se dá por vencido e busca adiar ao máximo sua investidura no cargo. Ele mesmo gracejava que sua missão peruana havia sido passada no Rio de Janeiro.7 Durante este tempo manteve-se ocupado revendo amigos, estabelecendo contatos, tratando da publicação de obras e escrevendo para a imprensa.
O tema preferido foi a reforma diplomática, o que certamente não ajudou a melhorar sua posição no Itamaraty. Os artigos do Correio da Manhã ajudaram a azedar de vez as relações com Rio Branco. Nabuco os considerou “um manifesto contra a política do Rio Branco” e estava certo de que “em muitos pontos deve ter desagradado a este, que não esquecerá.” Era certo, como disse Domício da Gama, que “não faltou quem trouxesse o Barão informadíssimo”. (Gouvêa 2002). No mesmo ano de 1904, Oliveira Lima inaugura sua colaboração em O Estado de São Paulo em 10 de outubro, com uma série de três artigos sobre as eleições presidenciais nos Estados Unidos. Disputavam a vaga o Republicano Theodore Roosevelt, que concorria à reeleição, e o Democrata Alton B. Parker, Juiz da Corte de Apelações de Nova York. Lima previa que a reeleição de Roosevelt poderia ser dada como certa, mas considerava ambos excelentes candidatos, o que era a maior prova da abundância nos Estados Unidos de “homens perfeitamente preparados para a suprema administração”.8
A Venezuela, Cipriano Castro e a “incontinência da pena”
Oliveira Lima conseguiu afinal evitar ir ao Peru, mas não evitou ser enviado a outro país da América do Sul que tampouco estava na sua lista de preferências. Foi nomeado Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário em agosto de 1904 para reestabelecer a legação brasileira em Caracas e finalizar uma questão de fronteiras pendente desde 1859. Nas palavras da irmã Sinhá, ia rumo ao “desterro” ao qual o obrigou o “Todo-poderoso do Itamaraty”. (Cardozo 1953, 36). Como bem observa Vamireh Chacon (1982, p. 38) “Caracas surgiu no seu horizonte como uma novidade, de início inesperada, quase repelida pelo europeísmo e norte-americanismo típicos de intelectual latino-americano desconhecedor dos vizinhos”.
Apesar de vários autores considerarem esse período decisivo na sua posição sobre a política continental (Malatian 2001), alguns chegando a ver até uma espécie de despertar latino-americano (Freyre, 1953; Forster, 2011), uma “lição latino-americanista” (Chacon 1982) ou o nascimento de uma perspectiva bolivariana (Preuss 2005), a verdade é que Lima não conseguia se libertar completamente dos seus preconceitos. Como aponta Gilberto Freyre (1953, 13), certos “’barbarismos’ ibero-americanos repugnavam ao espirito e à formação de Oliveira Lima”. Por isso, ele nunca de fato advogou por uma aproximação com a América Latina como opção a estar na esfera de influência dos Estados Unidos. O rechaço a uma aproximação incondicional com os Estados Unidos não significava para ele a adoção de um projeto latino-americanista alternativo.
Na avaliação de Oliveira Lima, a Venezuela foi o “capítulo mais valioso do seu aprendizado diplomático”.9 Este período foi fundamental para ele como diplomata e historiador sob vários aspectos. Finalmente tinha a oportunidade de seguir o conselho recebido de Joaquim Nabuco e ia à América do Sul “completar o [seu] conhecimento do nosso mappa-mundi geográfico”. (Carta de Oliveira Lima a Joaquim Nabuco, 23/10/1905 citada em Gouvêa, 1976, p. 690). Era a primeira vez que pisava um país hispano-americano e tinha a chance de confrontar várias das ideias que nutria, muitas baseadas em estereótipos e ideias pré-concebidas. Além disso, pela primeira vez estava do outro lado da relação entre Estados Unidos e América Latina e podia observar em primeira mão os efeitos da Doutrina Monroe. A Venezuela sempre foi um país importante na geografia política do continente e um ponto de observação privilegiado, tanto pelos acontecimentos do passado, quanto pela situação atual que ele ia encontrar. Ao mesmo tempo, a sua chegada ao país coincide com o endurecimento da política imperialista capitaneada por Theodore Roosevelt, confirmada logo após a sua reeleição com o enunciado do seu Corolário.
Em Caracas Oliveira Lima confirmou sua antipatia pelo militarismo e pelo caudilhismo. Em meio à desordem, ao caos e corrupção que via, já começa a demonstrar saudosismo da ordem e do decoro do antigo regime. É correta a análise de Chacon de que “em Caracas amadurecia o neo-monarquismo de Oliveira Lima”. (Chacon 1982, 50). A situação política venezuelana o faz refletir e concluir que nas “pseudodemocracias” floresce a arbitrariedade no lugar da intelectualidade. Parece que a crítica não era apenas às repúblicas hispano-americanas, mas já um indício da sua decepção com a República no Brasil. Afinal, nos escritos deste período, na comparação do regime republicano venezuelano com o Império do Brasil, invariavelmente o segundo é superior.
Lima passou a frequentar e a inserir-se nos espaços de sociabilidade tradicionais da intelectualidade venezuelana, como a Academia Nacional de História, da qual se fez sócio correspondente. Também circulava com desenvoltura na sociedade local. Ele conquistou a simpatia do Presidente Castro e recebeu demonstrações inequívocas de apreço, como a medalha de Honra da Instrução Pública e a condecoração de segunda classe do Busto do Libertador.
É possível afirmar que “Caracas mudara a visão política internacional de Oliveira Lima, na medida em que transformou suas opiniões sobre o pan-americanismo”. (Chacon 1982, 45). Certamente a permanência na Venezuela lhe deu uma inigualável possibilidade de reavaliar suas opiniões sobre as relações entre os Estados Unidos e a América Latina já que historicamente o país foi palco de acontecimentos relevantes para a política do continente. Um deles foi a disputa de fronteiras com a Inglaterra por causa da Guiana Inglesa. A questão Anglo-Venezuelana serviu para mostrar ao mundo que com a Doutrina Monroe como princípio, os Estados Unidos estavam dispostos a exercer um papel de liderança no continente e ocupar o lugar de potência continental.
Quando Oliveira Lima chegou a Caracas, outro episódio estava bem fresco na memória dos venezuelanos. Entre 1902 e 1903, Alemanha, Inglaterra e Itália promoveram um bloqueio naval no país para forçar o pagamento de dívidas e chegaram a bombardear os portos de Porto Cabelo, Maracaibo e La Guaíra. Os Protocolos de Washington, assinados com a mediação dos Estados Unidos em princípios de 1903, puseram fim ao bloqueio e colocaram a alfândega venezuelana em mãos de oficiais norte-americanos para garantir o pagamento das dívidas contraídas e evitar novas tentativas de invasão. Além disso, a recente declaração do Presidente Roosevelt, enunciando o seu Corolário à Doutrina Monroe suscitava desconfianças por toda a América Latina e na Venezuela não foi diferente.
Conforme Lima já havia previsto, Roosevelt foi reeleito presidente sem problemas em 1904. Na sua primeira mensagem ao Congresso, em dezembro do mesmo ano, estabeleceu o Corolário que levava seu nome. Em linhas gerais, o que fez na mensagem foi reforçar que os Estados Unidos não tinham nenhum desejo de expansão territorial no Hemisfério e não nutriam nenhum projeto que não fosse apenas o bem-estar das demais nações da região. O único que desejavam era ver os países vizinhos estáveis, ordeiros e prósperos. Portanto, os países capazes de governar-se, mantendo a ordem política e social e cumprindo com o pagamento das dívidas contraídas, podiam contar com a amizade dos Estados Unidos e não tinham que temer sua interferência. A novidade trazida por Roosevelt é que assumia a possibilidade de os Estados Unidos atuarem como um poder policial internacional no hemisfério, um papel que aceitava relutantemente, caso fosse necessária a intervenção externa em algum país do continente para manter a ordem e garantir que não se desfizessem os laços que conformam uma sociedade civilizada. Com esta declaração, Roosevelt sentou as bases que guiariam a sua política exterior para o continente americano e justificou, com base na já consolidada Doutrina Monroe, as eventuais intervenções que julgasse necessárias10. Dado este contexto, não surpreende que na sua abundante colaboração para o Estado de São Paulo durante a permanência na Venezuela, Lima tenha frequentemente dado espaço aos Estados Unidos e sua politica externa para o continente americano.
A ampliação do poder presidencial nos Estados Unidos torna-se um tema recorrente a partir do segundo mandato de Roosevelt. O grau de intervenção de Roosevelt no Legislativo era inédito e causava confusão no sistema de partidos, para Lima já existia o que ele chamou de um “Roosevelt party”11 acima da tradicional divisão partidária. Ele compara Roosevelt a um imperador e aponta o perigo daquela grande democracia converter-se em uma plutocracia caso os poderes presidenciais não sofressem uma remodelação. Considera Roosevelt “napoleônico” nos seus modos e na forma como afirmava a sua “notável individualidade” e ironiza o fato dele ser o centro de atração do país, o objeto de todas as atenções, “a mola principal do governo nacional, o eixo de todos os poderes públicos”.
Já começa a desenhar-se a divergência com Nabuco quando Oliveira Lima publicamente manda indiretas ao conterrâneo que “na bela forma enthusiastica que é do seu feitio” enaltecia o papel de Roosevelt sempre que tinha oportunidade.12 Critica também a tentativa do presidente de se impor como árbitro das questões sobre dívidas dos países latino-americanos e alertava que o resto do continente deveria se preocupar com a face exterior que a centralização poderia tomar. Apesar de criticar os escândalos e a corrupção nos Estados Unidos sempre poupa o presidente de críticas pessoais porque o considera honesto e até agressivamente íntegro.
Já sobre a sua política externa é muito mais duro. Sobre as intenções da Doutrina Monroe, é clara a mudança de perspectiva desde a publicação de Nos Estados Unidos...:
Pensar que os Estados Unidos procediam em 1823 por philantropia democratica, talvez com um grão de egoismo conservador mas sem sombra de aspirações hegemonicas para o futuro, é dar prova de uma ingenuidade que por certo não cabia no espirito de Monroe nem no do seu secretario de Estado John Quincy Adams.13
Lima posiciona-se a favor de um Pan-americanismo que identifica com origens na proposta de Bolívar, que dividia as responsabilidades da Doutrina Monroe com as repúblicas menores. Esta interpretação era a mesma defendida por Salvador de Mendonça. Estavam, portanto, certas as Repúblicas hispano-americanas em reconhecer logo “a ameaça da singular preponderancia da Republica saxonica no Novo Mundo”.14 Afinal, no tempo de Monroe como no de Roosevelt, os Estados Unidos já queriam ser “um acima de todos” e por isso fizeram ouvidos de mercador às reivindicações e acenos de camaradagem das irmãs latinas, como foi o caso da proposta de Bolívar. A diferença é que sob Roosevelt, os Estados Unidos evidentemente professavam o respeito às soberanias dos vizinhos, já que não seria mais razoável pensar que fosse possível empreender guerras de conquista no continente como as que empreenderam sobre o México no século XIX. A diferença, portanto, era apenas retórica.
Observa com desconfiança que o respeito professado pelos Estados Unidos à soberania das vizinhas repúblicas tem limites, afinal o “irmão mais velho anda armado de cacete” porque o big stick de Roosevelt é utilizado para manter “na linha as irmãs mal criadas” e não hesita em agir. Foi o que aconteceu com o Panamá, uma “aventura” levada a cabo com a ajuda do Secretário de Estado John Hay que para Lima “não foi menos cynica nem mais desculpavel perante a moral individual [...] do que a do Texas em 1815”. Sua análise é a de que “a Doutrina Monroe não mudou com o desenvolvimento dos Estados Unidos: transformou-se, evolvendo-se”, mas mantinha a mesma essência, “feita de ciúme e ambição”, que foi indispensável quando surgiu e era fatal no seu presente aspecto.15 Já não se vê nem sombra do jovem republicano que via apenas boas intenções na Grande Irmã do Norte.
A esta altura, Oliveira Lima já questiona abertamente a autoridade auto atribuída dos Estados Unidos em protetor do continente e demonstra preocupação por dar bases jurídicas claras à Doutrina, que como destaca Romero (2002, 24) “was advocated, enlarged, and realized to an unprecedent degree during the Roosevelt administration”. Ele defende que o “monroismo rooseveltiano” deveria ser submetido à discussão na Conferência da Paz de Haia e argumenta que aquilo que não fosse definido no congresso seria “um crime de lesa soberania”.16 Esta proposta vinha da sua preocupação de que a nova interpretação da Doutrina pudesse ser usada inescrupulosamente por líderes no futuro, além, é claro, dos efeitos imediatos.
Em fins de 1905, passado cerca de um ano da enunciação do Corolário Roosevelt, portanto, é possível perceber uma mudança no tom dos artigos na imprensa, que se tornam mais e mais duros em relação à pessoa e as ações do Presidente. Sua interpretação era de que a doutrina Monroe foi corrigida e ampliada para tornar-se a doutrina Roosevelt, a qual tem o objetivo de colocar-se em primeiro plano e “levar o resto do mundo a reboque”, tomando atitudes que vão muito além do que Monroe jamais sonhou.17
Ao mesmo tempo em que endurecia as críticas a Roosevelt, pintava um retrato positivo do Presidente venezuelano, Cipriano Castro, na imprensa brasileira. Em um artigo dedicado ao General no Estado de São Paulo esboça inclusive o que pode ser entendido como uma justificativa para o caudilhismo que sempre condenou. Roosevelt, o “homem do cacetão”, é criticado pelo seu excesso de demonstrações de vigor e virilidade e pelo seu enorme ego, alimentado pela propaganda que o rodeia. Em contraste, elogia Castro e sua postura frente aos aduladores, a quem não dava ouvidos, reafirmando uma das suas convicções pessoais de que “nada mais desprezível que uma língua aduladora”.18 Um recado para Nabuco e seus elogios a Roosevelt? As expressões de simpatia pelo General seguiam na correspondência privada. Ao Deputado pernambucano Barbosa Lima descreve Castro como um “tipo curioso,” mas “muito melhor do que o pintam no estrangeiro”. Estava tão bem impressionado pelo presidente venezuelano que opina em carta a Nabuco que se tivesse instrução Castro valeria mais do que Roosevelt (Chacon 1982, 45).
Castro era tido nos Estados Unidos e na maior parte do mundo como um ditador e os elogios públicos e privados do diplomata brasileiro desagradaram o Presidente Rodrigues Alves, aborreceram Rio Branco e chegarem a ser motivo de censura no Senado.19 Alguns destes artigos incômodos foram publicados em Pan-americanismo (Monroe, Bolívar, Roosevelt) em 1907. O fio condutor da obra é a convicção de Oliveira Lima de que os recentes desenvolvimentos da Doutrina Monroe comportavam perigos e eram um reflexo do processo de centralização política e de fortalecimento do poder presidencial nos Estados Unidos.
Sobre este lugar que acabou reservado a Pan-americanismo e o impacto que teve no conjunto da obra de Oliveira Lima cabem algumas observações. Pelo seu conteúdo extremamente crítico, acabou colaborando para que se atribuíssem a Oliveira Lima rótulos como “antiamericano” e “anti-imperialista” que perduram até algumas das análises mais atuais sobre a sua obra. Ele não era nem uma coisa nem outra, como a leitura isolada da obra realmente pode levar a crer. Apenas colocando o livro em contexto é que se pode apreciar o processo que o levou a escrevê-lo. O livro reúne artigos escritos no calor do momento do debate sobre o Pan-americanismo, entre 1903 e 1907, e acompanha de perto acontecimentos cruciais, como a enunciação do Corolário Roosevelt, o aumento do poder presidencial nos Estados Unidos e os preparativos para a realização da III Conferência Pan-americana no Rio de Janeiro, bem como o seu desenvolvimento e resultados alcançados. Os textos sobre a Conferência são especialmente ácidos e retratam a clara tomada de posição de Oliveira Lima frente a Nabuco, que havia se tornado um ferrenho defensor do projeto norte-americano e da aproximação incondicional aos Estados Unidos.
Cabe notar que em comparação a obras clássicas da literatura antiamericana, Pan-americanismo nem poderia ser considerado um livro tão “anti”. O que ele propõe é muito mais uma reforma na Doutrina Monroe e no Pan-americanismo do que um chamado pelo seu abandono. Como bem nota Percy Alvim Martin (1914, p. 12-13) em Pan-americanismo...:
Dr. Lima advances the thesis, now steadily gaining in the number of its adherents, that a new basis should be found for the Monroe Doctrine. He unhesitatingly admits its value to the whole American continent as long as it did not undergo alteration-that is to say as long as, continuing to be an arm of protection, it did not become an arm of guardianship, indeed of dominion, by means of territorial annexations.
Esta nova base deveria ser um resgate da proposta de Bolívar, que ele sempre repetia ser em essência a mesma defendida por Salvador de Mendonça, um projeto continental em que houvesse responsabilidades compartilhadas entre os países. Lima defendia ainda uma síntese entre a Doutrina Monroe e a Doutrina Drago. Como observa José Veríssimo (2003, 561), que estava convencido do “perigo americano” que avassalaria o continente, este “não é um livro de animadversão” contra os Estados Unidos, mas um em que o seu autor busca contrastar e até diminui os estragos do seu papel crescente. Ao contrário de autores como os argentinos José Ingenieros e Manuel Ugarte, que não só escreviam, mas estavam envolvidos ativamente em organizações e atividades relacionadas à luta anti-imperialista, como o Comitê Pró-México, estabelecido em apoio ao país durante a intervenção dos Estados Unidos em Veracruz em 1914. Outro ponto importante que não deve ser esquecido é que Lima tampouco foi um crítico dos Estados Unidos como modelo político e econômico. Criticava o que considerava desvios no funcionamento de instituições que estimava, como era o caso da preponderância do Executivo sobre os demais poderes, entretanto, nunca deixou de afirmar que, embora imperfeitas, as instituições norte-americanas eram dignas de admiração.
A Conferência Pan-americana no Rio de Janeiro
Oliveira Lima acompanhou com interesse os preparativos da III Conferência Pan-americana no Rio de Janeiro a partir de Caracas. No entanto, ele partiu da Venezuela antes do início dos trabalhos da Conferência, em 16 de junho de 1906, para gozar uma licença de seis meses e seguiu acompanhando o assunto da Europa, para onde foi reestabelecer a saúde.
Na série de artigos escritos ainda em Caracas afirmava que a doutrina Monroe sempre havia sido egoísta e não altruísta, ainda assim, opinava que ela havia servido sim para afastar a ideia de recolonização e que era um instrumento continental útil, caso não fosse alterada. A sua preocupação era com as pretensões de tutela sobre o continente continuamente aventadas por Theodore Roosevelt, as quais estava certo de que surgiriam também na Conferência. Outro ponto defendido pelo diplomata brasileiro era o de que a doutrina Monroe é um princípio de polícia exterior dos Estados Unidos e não um princípio continental. Em sua opinião, para que adquirisse caráter continental a Doutrina teria que ser fruto do consenso e ser aprovada no Congresso Pan-americano. Alertava, porém, que a aprovação da Doutrina Monroe tal como estava, com o que considerava uma feição “alterada”, equivaleria a uma abdicação de soberania.20
Não tinha objeção a que os países quisessem alargar seus mercados, mas desaprovava que quisessem ser os compradores da autonomia política de outros países.21 Neste sentido, critica duramente o projeto de arbitragem do Secretário de Estado Elihu Root e especula sobre as consequências da sua presença no Rio de Janeiro para o evento, que estava sendo amplamente festejada pela imprensa brasileira como uma vitória da diplomacia nacional. Sobre o projeto de arbitragem obrigatória opinava que seria “deprimente em certo sentido da nossa soberania e injuriosa a nossa civilização”. 22 Sua crítica se estende ainda às celebrações da escolha do Rio de Janeiro como sede da Conferência, que ele via como um exagero e fruto do desconhecimento do funcionamento da diplomacia. Os que estavam dando tanta importância ao fato ou eram ingênuos ou mal-intencionados, querendo fazer crer que o Brasil gozava de uma posição especial na região aos olhos dos Estados Unidos. Estas opiniões aborreceram Joaquim Nabuco, que se empenhou pessoalmente para que se realizasse a visita de Root. (Henrich 2017).
Outro comentário de Oliveira Lima que desgostou Rio Branco e, particularmente, o Embaixador Nabuco, chefe da delegação brasileira, foi o de que estava confiante que a delegação argentina traria para a Conferência a oposição necessária ao rooseveltismo. Afinal, achava que a diplomacia da Argentina estava à frente das demais nações latino-americanas.23
Oliveira Lima não ignorava que seus textos estavam incomodando o Itamaraty e repercutindo nos Estados Unidos, causando preocupações para Joaquim Nabuco. Não surpreende, portanto, que ele passasse a defender abertamente na imprensa o seu direito à liberdade de opinião. Seu argumento era o de que é licito aos estrangeiros emitirem sua opinião publicamente, ainda que ocupem cargos oficiais, desde que estas não sejam sediciosas. Por fim, disse que os Estados Unidos, como todos os vaidosos gostam de ser glorificados, mas também eram inteligentes e por isso permitem ser criticados senão com violência pelo menos com franqueza.24 O golpe tinha endereço certo.
Em seus textos da época da Conferência, Lima estava em diálogo constante com as declarações cada vez mais pró-Estados Unidos de Nabuco. Quando este declarou que os países latino-americanos deveriam ter gratidão pelos Estados Unidos, Lima preparou uma resposta bem a seu gosto, recheada com acontecimentos históricos e pontuada de ironia. A seu ver o Brasil não devia gratidão alguma à Grande República do Norte, inclusive porque teve negado seu pedido de auxílio - baseado na Doutrina de Monroe - à época da independência. Acrescenta que se se devia alguma gratidão era a Canning e não a Monroe, já que o reconhecimento da independência foi conseguido através da mediação diplomática e pagamento da Inglaterra e não dos Estados Unidos. Defendeu que de fato a relação sempre foi cordial entre os dos países, mas certamente o Brasil não lhe devia favores. Sobretudo, o diplomata pernambucano tinha a preocupação em demonstrar coerência no seu posicionamento e não deixava de mencionar Nos Estados Unidos. Esclarece que nesta obra buscou explicar sob o ponto de vista dos Estados Unidos e justificar a doutrina de Monroe naquele momento porque “ella ainda não ostentava o famoso corolário que, com querer robustece-la, apenas a desnaturou e a tornou objecto de muito maiores desconfianças”.25
Em contraste com o que expressava Joaquim Nabuco, Oliveira Lima opinava que o Brasil, pela sua disposição pacífica, poderia aspirar a atuar como um elemento de concórdia entre os Estados Unidos e as demais repúblicas do continente. Mas, para associado dos Estados Unidos não possuía ainda envergadura, a menos que a aliança proposta envolvesse subordinação, pois não era feitio dos Estados Unidos dar sociedade, mas sim buscar “méros caixeiros viajantes dos seus princípios de governo e dos seus interesses econômicos”. 26
Lima preocupava-se que a América Latina “esquecesse” tudo que devia a Europa. “A consciencia do quanto devemos á Europa é o melhor freio a qualquer quixotismo de um monroismo que quer se tornar amplamente americano, não sómente americano no sentido de Estados Unidos.” Para ele estava claro que, como doutrina defensiva, a doutrina Monroe era válida. O que não lhe cabia era proteger quaisquer destinos latino-americanos, da mesma forma como não lhe cabia oferecer pretexto para que os Estados Unidos estendessem sua tutela pelo continente, “arrogando-se um papel de cujo desempenho o dispensamos todos”. Esta extensão da compreensão é que permitirá dar a ela “a sua verdadeira e nobre significação de seguridade continental que o embaixador Nabuco divisa na affirmação da política do governo de Washington”.27
“O Oliveira Lima rompeu comigo”
As duras e constantes críticas à Conferência Pan-americana do Rio foram encaradas por Nabuco como ataques pessoais. Para entender porque o Embaixador brasileiro em Washington interpretava assim o que poderia ser visto apenas como mais uma divergência sobre política externa, uma que inclusive talvez nem fosse maior do que quando ele ainda era um ardente monarquista e Lima um defensor da república, é preciso ter em mente alguns pontos. Também é preciso recordar que esta divergência não foi apenas uma questão pessoal entre amigos de longa data, mas que foi um acontecimento com implicações importantes, especialmente para Oliveira Lima, pessoal e profissionalmente. O rompimento com Nabuco expôs Lima aos olhos de muitos como um diplomata insubordinado, incapaz de apoiar a orientação da diplomacia da qual era parte, além de um mau amigo, porque foi violento28 e inoportuno. Além do mais, não era um amigo qualquer, era Joaquim Nabuco, um herói da Abolição alçado à categoria de grande diplomata da República, uma figura quase unânime, seja pelo seu passado glorioso na política, seja pelos seus dotes literários e de oratória. Nabuco era um ícone do Império que havia logrado fazer com sucesso a transição para servidor fiel da república através da atividade diplomática e por isso prezava tanto o que tomava como sua última grande contribuição à nação, a obra da aproximação com os Estados Unidos. Como declarou claramente a Rio Branco: “estou dedicando o resto da minha vida ativa à aproximação íntima dos dois países”. (Carta de Joaquim Nabuco ao Barão do Rio Branco, 18/01/1908 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 300).
Este aspecto de missão dado por Nabuco à obra da aproximação não é surpreendente se se leva em conta indícios desta orientação presentes antes até da sua nomeação como Embaixador. Dizia a Rio Branco bem no início do seu mandato como Ministro:
Eu sou um forte Monroísta, como lhe disse, e por isso grande partidário da aproximação cada vez maior entre o Brasil e os Estados Unidos. Se eu fosse ministro do Exterior e o Presidente consentisse, caminharia firme nesse sentido, e em vez de pensar em mim para suceder-lhe daqui a dois anos, deveria talvez você pensar em fazer-me colaborador seu naquela política, (unindo as duas legações de Londres e Washington é o que devera ser, porque é uma só política, hoje a Inglaterra sendo a mais norte-americana das nações, mas tanto não proponho porque a novidade é para estudar), mandando-me a Washington sondar o terreno. (Carta de Joaquim Nabuco ao Barão do Rio Branco, 7/7/1902 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 132).
Quando foi finalmente nomeado Embaixador em Washington em 1905, demonstrou incerteza sobre a elevação da Legação à Embaixada ao amigo e confidente Graça Aranha. Mas reconhecia que “neste caso o título só por si é um manifesto, e um manifesto que tem a grande vantagem de dizer tudo sem nada precisar”. Expressava, no entanto, já alguma dúvida sobre a visão de Rio Branco sobre o assunto, que demonstra que os dois partiam de posições distintas. “Não sei ainda o que se quis com tal criação em Washington. O relator do parecer no Senado deu-lhe o sentido de uma precaução contra o “intervencionismo” norte-americano”. Era, porém, um otimista que apostava que “o futuro é que lhe imprimirá o seu verdadeiro caráter. Não nomearam, porém, um autômato, nem um antimonroista. Estamos visivelmente no começo de uma nova era”. (Carta de Joaquim Nabuco a Graça Aranha, 05/01/1905 citada em (Nabuco and Nabuco 1949b, II:202).
As relações com Rio Branco aos poucos foram mudando e logo já não estavam “no antigo pé de perfeita intimidade”. (Carta de Joaquim Nabuco a Graça Aranha, 21/06/1905 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 218). Com Oliveira Lima na Venezuela, porém, mantinha-se em contato constante, e queixava-se do chefe em comum: “O Rio Branco, esse, não me escreve, nem me diz nada, de modo que não posso conjeturar coisa alguma quanto aos planos e pensamento dele”. (Carta de Joaquim Nabuco a Oliveira Lima, 05/10/1905 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 225).
A Conferência Pan-americana do Rio funcionou como um divisor de águas na relação entre as três grandes figuras da diplomacia brasileira. Nabuco já a fins de 1905 estava com seu interesse “todo concentrado no Congresso”, mas tinha a consciência de que o chefe não comungava do seu entusiasmo pela causa pan-americana e lhe escrevia preocupado com a “falta de calor monroísta no governo e no país”:
Tenho medo que no seu espírito a ida de Mr. Root não tenha tomado a importância que tem perante o mundo todo. Você parece ter dado maior a reunião do Congresso, que será um acontecimento mínimo para o mundo e miníssimo para nós ao lado daquele. Estou tremendo, por pensar que você não aproveitará a ocasião maior, única, de sua vida. (Carta de Joaquim Nabuco ao Barão do Rio Branco, 19/12/1905 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 237).
Um fator fundamental para o empenho de Nabuco é que tomava como um logro pessoal a presença do Secretário de Estado Root no Brasil, na qual havia investido todo o seu capital político. Contava a Graça Aranha que ele e Root estavam “muito amigos” e que o próprio Roosevelt lhe havia dito que a idéia do Secretario comparecer à Conferência “foi um efeito da simpatia e boa impressão” que ele havia causado. (Carta de Joaquim Nabuco a Graça Aranha, 02/02/1906 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 243). Assim, se preocupava duplamente, pelo que achava que seria um erro na condução da política exterior brasileira, e pela sua reputação em Washington: “Minha preocupação é que Mr. Root, fiado no que lhe tenho dito, não vá ao encontro de uma decepção, de um acolhimento sem perspectiva alguma de completa reciprocidade da nossa parte”. Sob o ponto de vista de Nabuco estava claro que “a presença dele é que é o acontecimento, não a dos delegados”. (Carta de Joaquim Nabuco ao Barão do Rio Branco, 19/12/1905 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 238). Neste sentido empenhou-se para estar também presente e fazer-lhe todas as honras possíveis. Como solicitar a Rui Barbosa que providenciasse sua recepção no Parlamento brasileiro, com direito a todas as honras. (Carta de Joaquim Nabuco a Rui Barbosa, 23/07/1906 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 255-256).
Em mais de uma ocasião Nabuco reiterou a Rio Branco que era “francamente monroísta” e até lamentava estar trabalhando tanto “em vão”. Achava que não recebia instruções claras do Itamaraty, o que o exasperava ainda mais e certa vez pressionou o Ministro:
“Você dirá que não me encarregou disso, é certo, mas a simples criação da embaixada criou aqui esperanças e expectativas, que a escolha de um monroísta (declarado em cartas a você) como eu ainda aumentou e que a minha linguagem nunca desaprovada levou ao auge”. (Carta de Joaquim Nabuco ao Barão do Rio Branco, 19/12/1905 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 237).
Ao mesmo tempo em que enfrentava problemas com Rio Branco, com quem estava “em meia correspondência”, mantinha-se em contato constante com Oliveira Lima. Mas as divergências entre os dois não tardaram a aparecer. Na primeira vez em que apontou suas diferenças sobre o pan-americanismo, Lima tratou de manter o tom amigável, mas não perdeu a chance de usar de sua conhecida ironia.
Tenho acompanhado com curiosidade e interesse as manifestações do seu Monroismo, ou melhor do seu Rooseveltismo e, apesar de conhecer o entusiasmo que o seu temperamento põe em todas as coisas por que se apaixona, não o julgava capaz de tanto americanismo...do norte. Não posso dizer que o aplaudo sem reservas porque o meu Monroismo é menos caloroso e o meu Rooseveltismo é muito menos. (Carta de Oliveira Lima a Joaquim Nabuco, 23/10/1905 citada em Gouvêa, 1976, p. 689).
Não era, portanto, novidade para Nabuco o conteúdo das seguintes manifestações de Lima na imprensa brasileira. O que não diminuía sua apreensão quanto aos estragos que poderia causar Oliveira Lima, que estava dando vazão a sua “doença”, que ele chamava de “incontinência da pena”. A Graça Aranha, pedia que vigiasse o colega e o que ele estava escrevendo agora que era “mais admirador do Castro do que do Roosevelt” e acreditava em tudo que lhe diziam contra os americanos. Lamentava “ver o Oliveira Lima afastar-se assim diplomaticamente [de mim], porque pensava ser êle um monroísta firme”. Estava apreensivo pelos seus próximos passos, porque pelo tom das suas cartas sentia que estavam “muito afastados em tudo que é critério nacional”. (Carta de Joaquim Nabuco a Graça Aranha, 02/02/1906 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 244-245). Magoado, contava a Graça Aranha que Lima lhe parecia “tão interessado em que o Root não vá ao Rio, tão desejoso do naufrágio de tudo por que me tenho esforçado, que as cartas dele parecem mal encaminhadas para mim”. Nabuco confessava que preferia que Lima estivesse na Europa “e no uso das águas durante a Conferência”, esperando que isso o afastasse da imprensa e minimizasse o impacto das suas críticas, pois ele havia se tornado “um torpedo diplomático”. Instruía Graça para que lhe mandasse todos os artigos de Oliveira Lima que porventura se publicassem e que, sem dizer nada a ninguém, estivesse prevenido e pronto para agir e inutilizar o mal que ele pudesse causar. A pergunta que não conseguia responder, afinal de contas, era o porquê da atitude do amigo e conterrâneo, que lhe parecia “rara” e “singular”. As possibilidades que oferece explicam mais sobre a sua visão das coisas, pois tenta enquadrar o posicionamento em sentimentos puramente pessoais: “Estará possuído só de ódio ou também de ambição? É mais ressentimento ou cálculo?” (Carta de Joaquim Nabuco a Graça Aranha, 02/03/1906 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 249). Parece não cruzar a sua mente a possibilidade de que o colega de fato apenas desaprovasse o caminho que ele vinha defendendo para a política externa brasileira.
Naturalmente, à medida em que as manifestações públicas de desaprovação se acumulam, a correspondência entre Lima e Nabuco escasseava, mas o representante na Venezuela parece não entender o motivo do afastamento e cobra notícias do amigo antes tão próximo. Finalmente, Nabuco acaba expressando diretamente a Oliveira Lima seu desapontamento:
O sr. não se deve admirar de não ser eu tão ativo na minha correspondência como antigamente. Eu a compreendo sempre como um prazer e somente escrevo para ser agradável aos meus amigos. Ora não é justo que eles em troca me escrevam cartas que pareçam ter somente o propósito de me fazer passar un mau-vais quart d'heure. [...] Estas palavras bastam para lhe dizer a impressão que me deixa a leitura das suas cartas de certo tempo a esta parte. O sr. parece interessado em que a Conferência naufrague, toma o partido da Venezuela, condena os que me auxiliam aqui, tudo isso é seu direito, mas eu não compreendo por que o exercita dirigindo-se a mim mesmo, que nunca lhe falei nem lhe escrevi senão para lhe ser agradável. Externada a minha queixa e explicado o meu silêncio, deixe-me dizer-lhe que em nada variaram os sentimentos que sempre lhe manifestei. Saudades a dona Flora. (Carta de Joaquim Nabuco a Oliveira Lima, 01/03/1906 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 247-248).
As coisas escalaram rápido e no mesmo mês Nabuco dava um fim a correspondência e a amizade com Oliveira Lima:
Desde que o sr. estabelece como condição para me continuar a sua amizade ouvir eu «as verdades» que me queira dizer, não me é lícito insistir por aquele privilégio. Não haveria reciprocidade na cláusula, pois eu já agora não poderia contrair o mesmo hábito. O gosto de dizer «verdades» aos que nos mostram afeição não prova maior sinceridade do que a atenção em nunca os melindrar, e em geral os que se gabam daquele predicado escolhem os amigos com quem possam ser francos. (Carta de Joaquim Nabuco a Oliveira Lima, 30/03/1906 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 250).
“O Oliveira Lima rompeu comigo”, contava a Graça Aranha logo depois. (Carta de Joaquim Nabuco a Graça Aranha, 02/04/1906 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 252). Na realidade, na que seria sua última carta para Nabuco, Oliveira Lima defende a sinceridade das suas opiniões sobre “a sua política de excessivo americanismo” que não era bem vista pela opinião brasileira e latino-americana e nem mesmo pelo governo, que foram emitidas ao amigo e não ao Embaixador. Por isso, expressa sua tristeza com a interpretação dada por Nabuco ao que lhe parecia simples “expressão sem hipocrisia” de “alguém que se preza de ter sido sempre seu Amigo” e termina deixando a continuidade da amizade “absolutamente nas suas mãos”. (Carta de Oliveira Lima a Joaquim Nabuco, 18/03/1906 citada em Gouvêa, 1976, p. 1763-1764).
Brito Broca (2005, 256) provavelmente tinha razão quando dizia que “bem ao contrário de Graça Aranha, Oliveira Lima era o tipo do homem feito para não se entender com Nabuco”. Graça possuía a “juventude dionisíaca” que não poderia deixar Nabuco indiferente. Era um esteta, apreciador de gestos largos, tinha o louvor fácil29 e “possuía o sentido heroico das grandes emoções”, o que fez florescer entre os dois a mais harmoniosa relação. (Broca, 2005, p. 254). Já Oliveira Lima, prezava demasiadamente sua independência de opinião para sacrificá-la por uma amizade, mesmo que fosse a de Nabuco. Daí vem a possivelmente genuína surpresa que expressou pelo enfado de Nabuco, quando tudo o que fazia era “dizer-lhe verdades”, ainda mais quando sua opinião era sabidamente compartilhada por vários, inclusive o próprio Rio Branco, o que as reclamações de Nabuco deixam evidente. Oliveira Lima não estava, de forma alguma sozinho. José Veríssimo, por exemplo, afirmou: “Nabuco é mais yankee que os próprios yankees”.30
Nabuco, por sua vez, não via nada de excessivo na sua abordagem monroísta para a politica externa brasileira. Chegou até a dizer a Salvador de Mendonça que estava imbuído em Washington pelo “mesmo espírito que o inspirou” e lhe declarava a certeza de que eram “bons aliados nessa política em que não deve haver hesitações, ou, para melhor dizer, em que toda hesitação ou intermitência seria uma falta irresgatável”. (Carta de Joaquim Nabuco a Salvador de Mendonça, 13/10/1906 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 258). Ao mesmo tempo, matizava suas declarações de admiração ao Presidente Roosevelt que tanto desagradavam a Oliveira Lima dizendo a Rio Branco: “Note você que eu não acompanho as idéias de Mr. Roosevelt sobre ocupação norte-americana, ou outra, de alfândegas, etc., de países sul-americanos”. O que defendia era “uma espécie de aliança tácita, subentendida, entre os nossos dois países; que vamos nesse caminho tão longe e quanto nos seja possível, e que fiquemos desde já certos um do outro”. (Carta de Joaquim Nabuco ao Barão do Rio Branco, 19/12/1905 citada em Nabuco; Nabuco, 1949a, p. 238). Talvez, afinal, Nabuco e Lima não estivessem tão afastados diplomaticamente quanto pensavam e realmente os excessos pan-americanistas de Nabuco fossem mais arroubos retóricos que uma adesão ideológica.
O que certamente incomodava Lima eram as expansões oratórias de Nabuco, laudatórias em excesso, especialmente tratando-se de Teddy Roosevelt. Por isso, não vacilava em apontar o que considerava equivocado em várias das declarações do Embaixador. Certa vez, explicou: “Justamente o que por vêzes critiquei nas manifestações oratórias do falecido Embaixador Nabuco foi a falta de altivez ‘política’ bastante que revelavam seus hiperbólicos encômios ao gênio, à força e ao prestígio, tudo incomensurável (sic), do sr. Roosevelt.” Este era um elemento totalmente incompatível na visão dos dois diplomatas, pois para Lima (1971, 570):
Se os elogios se limitassem às instituições americanas, estava perfeitamente: se não podem ser elas perfeitas, são admiráveis. Tributados, porém, ao homem que encarnara uma orientação perigosa e desabusada nas relações do seu país com os outros países da América, afiguram-se-me descabidos.
Esta é uma distinção importante a fazer. Uma das grandes fontes da admiração de Oliveira pelos Estados Unidos eram as instituições norte-americanas. As críticas que fazia eram fruto da sua preocupação pela degeneração destas instituições que, mesmo imperfeitas, eram dignas de admiração. Por exemplo, quando denunciava o crescente predomínio do papel do Executivo na política nacional, era uma crítica fortemente dirigida ao então presidente Theodore Roosevelt, que pela sua personalidade e estilo político estava imprimindo uma nova feição - muito mais ampliada e proativa - ao poder presidencial. O mesmo pode ser dito sobre o Corolário Roosevelt à Doutrina Monroe, condenado à exaustão pelo diplomata brasileiro. Ele fez questão de frisar em diversas ocasiões que sua crítica estava focada na nova interpretação da doutrina dada pelo Presidente. A “doutrina Roosevelt” seria finalmente apresentada na Conferência do Rio de Janeiro, o que explica porque Lima voltou todas as suas baterias para o evento. O que ele buscava era alertar o Brasil para os perigos desta nova interpretação, já que via nas declarações de Nabuco um perigoso precedente por sinalizarem o desejo de uma adesão incondicional ao que entendia como uma tutela dos Estados Unidos. Era uma postura que não tinha nada de “antiamericanismo”, mas se é de fato necessário dar-lhe um rótulo, seria certamente mais adequado o de “anti-rooseveltismo”.
Uma carta de Oliveira Lima publicada no Jornal do Recife31 lança luzes sobre o rompimento com Nabuco e sua posição acerca dos Estados Unidos e Roosevelt, em particular. Claramente o uso das águas não ajudou a curar a sua “incontinência da pena” porque a carta foi escrita da estação termal de Karlsbad. Publicada na seção de “A pedidos”, era uma resposta a um editorial que tratava Lima como um líder dentre os que viam perigos no pan-americanismo, comparando-o a Joaquim Nabuco, que estava na trincheira oposta. Mesmo já tendo rompido oficialmente com o colega no Itamaraty, Lima trata de agradecer a comparação, mas afirma não estar ao mesmo nível de Nabuco, “uma das glorias brasileiras” na política e nas letras nacionais. Busca também defender sua atitude no caso do rompimento, descrevendo-se como um escritor que apenas “procura trabalhar com resultado no domínio da historia do seu paiz e que sobretudo presa a independencia das suas opiniões, entendendo não dever sacrifical-as, nem ao proveito nem mesmo á amizade.” Faz questão ainda de repetir que comungava da perspectiva de Salvador de Mendonça sobre as relações entre Brasil e Estados Unidos, que deveriam ser próximas, mas não pautadas na subordinação. Aproveita para queixar-se do “esquecimento” de Nabuco sobre o papel de Mendonça nestas relações e condena que o Embaixador trate como exclusivamente sua a obra da aproximação. Lembra que ninguém se esforçou mais do que Mendonça na época da Revolta da Armada, quando Nabuco condenou o apoio norte-americano.
Especificamente sobre sua posição com relação aos Estados Unidos é claro:
Tampouco detesto pan-americanismo. Tive ensejo de escrever um livro do qual não renego uma linha e que foi considerado nos Estados Unidos pelos que o puderam ler e o criticaram no Washington Post, New York Times, Evening Post e outros jornaes, um dos mais sinceramente sympathicos á nação americana.
Sempre pensou, e considerava cogitar o contrário uma insensatez, que as duas maiores repúblicas do continente deveriam manter relações cordiais. “O que porem não desejaria era ver imolar ao governo de Washington as nossas tradições européas, de interesses comerciaes e economicos e de laços moraes formados pela descendência e pela cultura”. Sobretudo, deplorava a possibilidade de “ver o Brasil reduzido a condição passiva de satellite imposta por uma dura necessidade política ou pela fatalidade geographica.” Citava uma vez mais o bom exemplo da Argentina, que mantinha boas relações com os Estados Unidos, mas caracterizava-se pela altivez da sua política externa.
É fundamental entender que nestas manifestações Lima estava muito mais em diálogo com as posições expressadas por Nabuco do que com Rio Branco propriamente. Afinal, como a correspondência do Embaixador em Washington deixa claro, sua relação com o chefe já não era tão próxima e havia sinais evidentes de que não estavam exatamente sintonizados em relação ao projeto de aproximação com os Estados Unidos. Ainda que buscasse pressionar Rio Branco por uma tomada de posição mais clara que aprovasse seus esforços, Nabuco sabia que não estava totalmente respaldado nas suas desbragadas manifestações de apreço ao monroismo proposto por Roosevelt. Atento a isso, Oliveira Lima afirma que não via “perigo” no pan-americanismo porque acreditava que Rio Branco compartilhava sua visão e não via a amizade com os Estados Unidos como uma relação de subordinação. Defendia que vinha escrevendo “sobre pan-americanismo, mais do que contra pan-americanismo” e que se este havia se transformado em um tema recorrente para ele, era fruto do receio de que “alguns consigam arrastar demasiado longe, por fantasias oratórias, diplomacia imaginativa, uma entente que tem base solida e pratica sobre que assentar, mas que é em extremo desigual para lograr ser absoluta em todas as suas faces.” Não poderia estar mais evidente a quem Oliveira Lima apontava suas baterias.
Com a publicação desta carta em Pernambuco e em São Paulo, Lima buscou afastar-se da imagem de “torpedo diplomático” e esclarecer seus objetivos quando manifestava opiniões sobre a Conferência. Demonstra também que estava ao tanto das divergências entre Nabuco e Rio Branco e que, apesar de tampouco estar nos melhores termos com o chefe, compartilhava mais da sua visão. José Verissimo32 classificou a divulgação do texto de “um ato inteligente” porque suas opiniões estavam sendo deturpadas com frequência no Brasil. Ainda assim, pode não ter sido suficiente para resolver a sua situação. Em carta, Max Fleiuss33 também considerou o ato positivo, mas contou que lhe disseram que a linguagem de Lima tinha “desagradado” e por isso ainda receava que “o grande Barão, sugestionado pelo Nabuco, o magôe de alguma fórma”. Algum efeito positivo, porém, parece ter vindo, pois a imprensa registrava em dezembro de 1906: “Parece que as relações entre o barão do Rio Branco e Oliveira Lima são actualmente mais cordiaes”.34 Em traços gerais, analisando-se as posições dos três grandes homens da diplomacia brasileira neste período o que se tem é uma imagem em que Joaquim Nabuco estava em um extremo enquanto Oliveira Lima e Rio Branco estavam muito mais próximos, em uma posição intermediaria entre a expressão de um pan-americanismo incondicional e o afastamento total dos Estados Unidos. Esta imagem é muito mais fiel às ideias expressadas por eles do que a tradicionalmente sugerida interpretação de que Nabuco e Lima é que estavam em extremos opostos e Rio Branco atuava como fiel da balança.35
Fontes utilizadas
Fontes primárias
Scrapbook Collection, Oliveira Lima Library, The Catholic University of America (SB, OLL)
Oliveira Lima Family Papers, Oliveira Lima Library, The Catholic University of America
Periódicos
O Estado de São Paulo
Diário de Pernambuco
Jornal do Recife
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro)