Introdução
Os capins do gênero Brachiaria Griseb comumente conhecido como braquiária, tem como centro de origem primária a África equatorial (Ghisi, 1991). Dentro do gênero Brachiaria, as espécies de B. decumbens cv. Basilisk (Australina) e a B. brizantha cv. Marandu são as mais importantes, representando juntas, cerca de 90% do volume total de sementes de brachiária comercializadas no Brasil (Souza, 1991). As braquiárias ocupam cerca de 95 milhões de hectares no país e 7.6 milhões de hectares no estado de São Paulo (Ferreira et al., 1999).
É amplamente conhecido que parte significativa das pastagens de brachiária apresentem certo grau de degradação, portanto, com reflexos na produção animal. Assim, é importante, técnicas para diminuir o avanço da degradação das pastagens, a exemplo das práticas de calagem e da adubação.
O potencial de produção de uma planta forrageira é determinado geneticamente, porém, para que esse potencial seja alcançado, condições adequadas do meio (temperatura, umidade, luminosidade, disponibilidade de nutrientes) e manejo devem ser observados. Dentre essas condições, nas regiões tropicais, a baixa fertilidade dos solos caracterizados pela acidez e baixa a disponibilidade de nutrientes, constituindo um dos principais fatores limitantes a produtividade da forragem. Neste sentido, a prática da calagem é importante para a produção da Brachiaria, além dos nutrientes, com destaque para os macronutrientes, o nitrogênio (N) (Fagundes et al., 2005) e para os micronutrientes, o zinco (Zn).
Assim, o equilíbrio da prática da calagem e da aplicação de nutrientes em quantidades e proporções adequadas, particularmente o N e o Zn, são importantes para a produção de forragem, entretanto, existem poucas pesquisas abordando esta relação para a Brachiaria decumbens.
Neste sentido, o presente trabalho, têm como objetivo avaliar a resposta da Brachiaria decumbens à aplicação de calcário, nitrogênio e zinco na produção de matéria seca durante quatro cortes em uma área com pastagens degradada.
Material e métodos
O trabalho experimental foi realizado na Fazenda de Ensino e Pesquisa da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira-Unesp, município de Selvíria-MS, sob coordenadas 20o 22’ S e 51o 22’ W Gr., altitude de 335 m. O clima da região, caracteriza-se por uma temperatura média anual de 23.6 oC e precipitação pluviométrica média anual de 1330 mm, predominantemente no período de outubro a março (CENTURION, 1982). O experimento foi desenvolvido em um Latossolo Vermelho distrófico, textura média. Os teores dos nutrientes antes da instalação do experimento foram P em resina=2mg dm-3, K=1, Ca=9, Mg=2mmol dm-3 e V = 41%, no período de outubro de 1996 a maio de 1997, cuja a temperatura e precipitação média do período experimental, consta na Quadro 1.
O experimento foi instalado em uma área experimental com pastagem de B. decumbens degradada, implantada em 1978 e a qual permaneceu por 18 anos sem adubação ou correção da acidez do solo.
O delineamento experimental adotado foi em blocos casualizados, em esquema fatorial 3 × 3 × 2, com 4 repetições. Os tratamentos foram compostos por três doses de nitrogênio: 0, 50 e 100 kg ha-1, três doses de calcário (PRNT = 90.1%, CaO = 31% e MgO = 18%): 0, 267 e 556 kg ha-1, correspondendo aos níveis de saturação por bases 41, 50 e 60%, respectivamente e duas doses de zinco (0 e 5 kg ha-1), na forma de sulfato de zinco.
A adubação complementar constou da aplicação de fósforo, na dose de 89 kg ha-1 de P O na forma de superfosfato simples (20% de P2O5) e de potássio na dose de 80 kg ha-1 de K O na forma de cloreto de potássio (60% de K2O).
O calcário, o zinco e o fósforo foram aplicados em uma única vez, no início do período das águas (outubro de 1996), após o rebaixamento do capim (cerca de 5 cm de altura), enquanto o nitrogênio e o potássio foram parcelados em duas vezes, em outubro e dezembro de 1996, feito imediatamente após o primeiro corte, em capim rebaixado. Todas as aplicações foram realizadas a lanço, manualmente e sem incorporação. No final do período experimental realizou-se novamente a amostragem de solo e determinou-se o valor pH, teores de Ca e Mg e a saturação por bases, cujos resultados estão apresentados no Quadro 2.
(1) V0, V1, V2 = V = 41, 50, 60%; N1, N2, N3 = 0, 50 e 100 kg N ha-1; Zn0 e Zn1 = 0 e 5 kg de Zn, ha-1, respectivamente.
As parcelas experimentais constaram de 12 m2 (3 × 4 m), entretanto, apenas a parte central foi considerada a parcela útil, tendo 2 m2. Os cortes das plantas foram realizados com intervalos de 49 dias, a altura de 10 cm do solo. Em seguida, as amostras de tecido vegetal foram acondicionados em sacos e secos em estufa de circulação forçada de ar a 65 °C até peso constante, para a obtenção da matéria seca.
Resultados e discussão
Pelos resultados obtidos, o fator calcário apresentou diferença significativa na produção de matéria seca do capim braquiária apenas no 4° corte, ao passo que para fator nitrogênio, houve diferença significativa em todos os cortes, exceto o 4° corte, e para fator zinco não houve diferença significativa para a variável estudada (Quadro 3). Observou-se, que houve interação calcário e nitrogênio no 4° corte e também no total (soma dos 4° cortes), e também a interação calcário e zinco no 4° corte e a interação nitrogênio e zinco no 2° corte para a produção de matéria seca do capim brachiária.
A produção de matéria seca do primeiro corte (1819 a 1992 kg ha-1), Quadro 4, não foi afetado significativamente pelas doses de calcário. Rodrigues (2005) trabalhando com Brachiaria decumbens em Neossolo Quartzarênico (V = 32%), também não observaram efeito na produção de matéria seca. Outros autores também relataram a ausência de resposta de forrageiras à aplicação de calcário, como em capim- tobiatã (Luz, 2002), capim IZ-1, capim-Vencedor e capim-Centenário (Mitidieri, 1995) e capim-pojuca (Elyas et al., 2006). A ausência do efeito da calagem sobre o desenvolvimento do capim braquiária, discorda de, entretanto, concorda com os resultados da Embrapa (1985), que atribui a esta forrageira tolerância ao alumínio e ao manganês, boa adaptação a solos pobres. Carvalho et al. (1992), reforçam que na literatura, existem indicações sobre efeitos positivos e ausência de efeitos da calagem sobre a Brachiaria decumbens. É pertinente salientar que a resposta de forrageiras do grupo das braquiárias, à aplicação de calcário, dependerá do V% inicial do solo. No presente trabalho o V% inicial era de 41%, o que poderia suprir a planta com os nutrientes Ca e Mg, pois Cruz et al. (1994), obteve resposta da Braquiária à calagem em solo com V% muito baixo (4%). Acrescenta-se ainda, um outro aspecto que é importante para explicar a ausência da resposta da forrageira a aplicação do calcário, refere- se ao tempo de reação do calcário pode ter sido insuficiente, pois observou-se que o emprego da maior dose de calcário atingiu no máximo V igual a 46% (Quadro 2), o que ocorreu pelo fato que a aplicação do material corretivo foi realizado em cima da pastagem.
Médias seguidas por letras iguais maiúsculas na linha e minúscula na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P < 0.05).
Quanto ao N, observa-se que houve acréscimo significativo na produção de matéria seca, à medida que se aumentou a dose de N. Em relação à ausência de N, as doses 50 e 100 kg de N produziram um acréscimo, respectivamente de 60 e 92% de matéria seca (Quadro 4). Esse incremento em produção de forragem, proporcional as doses de N em B. decumbens, foi semelhante aos obtidos na literatura por Fonseca et al. (1998), Paciullo et al. (1998) e Fagundes et al. (2005). Esse efeito do N pode ser atribuído à sua influência sobre os processos fisiológicos da planta (Herrera & Hernandez, 1985), devido a sua função estrutural, participando de compostos orgânicos (proteínas, enzimas, clorofila entre outros), vitais para o crescimento das plantas (Malavolta et al., 1989).
As doses de Zn também não afetaram a produção de matéria seca do primeiro corte, independentemente das doses de calcário e de N estudadas. As produções variaram de 1818 a 2439 kg ha-1 (Quadro 4).
No segundo corte, Quadro 4, verifica-se também que a produção de matéria seca não foi afetado pelas doses de calcário (1394 a 1507 kg ha-1) e zinco (1450 a 1463 kg ha-1). Quanto ao N, à medida que se aumentou a dose houve acréscimo significativo na produção de matéria seca, na presença ou ausência de zinco.
Assim como no primeiro e segundo cortes, a produção de matéria seca no terceiro corte (1233 a 1288 kg ha-1), não foi afetada pelas doses de calcário aplicadas (Quadro 4). Quanto ao N, a aplicação de 100 kg ha-1 proporcionou acréscimo significativo na produção de matéria seca, quando comparada com a dose zero de N. A aplicação de zinco não afetou significativamente a produção de matéria seca.
É pertinente salientar que nos três primeiros cortes, não houve interação da aplicação de calcário e de nitrogênio, fato este também relatado por Elyas et al. (2006), em capim-Pojuca durante os três primeiros cortes.
No Quadro 5, verifica-se que no quarto corte, a aplicação de nitrogênio, independentemente do calcário e do zinco, não incrementou significativamente a produção de matéria seca (937 a 1025 kg ha-1). Este fato, possivelmente deve-se a estresse hídrico devido a baixa precipitação e com queda na temperatura (mínima) no período de abril e maio (Quadro 1), época de desenvolvimento das plantas entre 3° e 4° corte.
Médias seguidas por letras iguais maiúsculas na linha e minúscula na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P < 0.05).
Ruggiero et al. (2006) observaram que a resposta do capim mombaça irrigado à adubação com nitrogênio, foi limitada pela baixa temperatura. Whiteman (1980), também relatou que o crescimento das forrageiras tropicais são dependentes das condições climáticas. Soma-se a isto, o fato que a exigência ou extração do nutriente diminuiu com o decorrer dos cortes (Freitas et al., 2005), pois as forrageiras vão perdendo o potencial de rebrota em função do esgotamento das reservas de nutrientes armazenadas nos tecidos.
Na ausência de N, a elevação do V a 50% proporcionou maior produção de matéria seca (1015 kg ha-1) (Quadro 5). O efeito da aplicação de N na produção de matéria seca (4º corte), ocorreu apenas no maior nível da saturação por bases (60%). Rodrigues (2005) verificaram maior crescimento (área foliar) da Brachiaria decumbens de 2º corte, em função da aplicação de N, nos tratamentos com uso de calcário, comparado a testemunha (sem calcário). Outra interação, observada foi para a correção da acidez elevando o V a 50% e aplicação de 5 kg ha-1 de Zn, que diferiu do tratamento sem aplicação de Zn. Entretanto, esta resposta da forrageira do 4° corte à aplicação de Zn, foi relativamente pequena, cerca de 12% de incremento da produção de matéria seca.
A produção total de matéria seca, Quadro 5, foi influenciada pela interação, a partir do aumento da saturação por bases e das doses de nitrogênio. Independentemente da elevação da saturação por bases, à medida que se aumentou a dose de N, houve um acréscimo significativo na produção total de matéria seca.
Os níveis de zinco utilizados não influenciaram a produção média total de matéria seca (Quadro 5). A ausência de resposta a aplicação de Zn também foi relatado em outras forrageiras como capim-Tanzânia (Oliveira et al., 2000) e capim Tifton 85. Assim, a falta de resposta ao zinco pode ter ocorrido pelo fato de o mesmo, apesar de presente no solo em pequenas concentrações, encontra se em forma disponível e suficiente para o crescimento da forrageira durante o primeiro ano. E ainda pelo fato que o efeito positivo da adubação com micronutrientes em forrageira, possa ocorrer após o primeiro da aplicação, pois Oliveira et al. (2003) relataram que a aplicação de calcário e micronutrientes promovem efeitos mais acentuados na produção da Brachiaria decumbens no segundo ano de experimentação.
Portanto, o resultado deste trabalho indicando ausência de resposta da forrageira à aplicação de Zn, estaria em desacordo com as recomendações de aplicação de Zn para capim brachiária cultivadas no Estado de São Paulo (Werner et al., 1997) ou no Cerrado (Oliveira et al., 1996).
Conclusões
A resposta da Brachiaria decumbens a aplicação de calcário ocorreu apenas no quarto corte quando na presença da adubação nitrogenada. Enquanto, que a aplicação de nitrogênio, proporcionou efeito imediato, incrementando a produção de matéria seca da forrageira durante os três primeiros cortes. A aplicação de zinco não incrementou a produção de matéria seca da Brachiaria decumbens.