Introdução
A etnobiologia é uma ciência norteada, principalmente, pelo registro e entendimento do conhecimento e uso de populações tradicionais acerca do ambiente natural (Albuquerque, Medeiros, & Casas, 2015). Nos dias atuais, já são estabelecidos diálogos que ampliam as metodologias específicas da área possibilitando, por exemplo, a compreensão do processo evolutivo que acompanhou a relação homem/ambiente, por meio de investigações sobre a evolução cultural e a etnobiologia evolutiva (Santoro, Nascimento, Soldati, Ferreira Júnior, & Albuquerque, 2018).
A etnobotânica, subárea da etnobiologia, investiga a inter-relação de populações humanas com os recursos vegetais (Albuquerque & Andrade, 2002), e por isso é considerada como instrumento fundamental para a compreensão da dinâmica da propriedade cultural e intelectual do conhecimento, o uso e a extração de espécies, podendo seus resultados contribuir para administração sustentável dos recursos naturais (Sousa, Silva, Rocha, Santana, & Vieira, 2015).
No Brasil, é registrada uma maior concentração de pesquisadores desenvolvendo estudos etnobotânicos na Mata Atlântica (região Sul e Sudeste), e na Caatinga (região Nordeste), principalmente nos estados da Paraíba e Pernambuco, podendo ser reflexo da rica sociodiversidade, das complexas formações vegetacionais, e da maior concentração de grupos de pesquisas nestas áreas. O direcionamento das pesquisas nestes locais tem contribuído para elucidar a dinâmica desta inter-relação e uso de plantas medicinais e alimentares, por exemplo (Liporacci, Hanazaki, Ritter, & Araújo, 2017).
Diversos estudos desenvolvidos no estado da Paraíba descrevem a forma como as populações rurais da Caatinga interagem com plantas lenhosas úteis em diferentes regiões (Carvalho et al., 2012; Leite et al., 2012; Lucena, Medeiros, Araújo, Alves, & Albuquerque, 2012; N. Silva et al., 2014), investigam categorias de uso específicas (Coutinho et al., 2015; Marreiros, Ferreira, Lucena, & Lucena, 2015), espécies e famílias botânicas de importância ecológica, cultural e econômica (Guerra et al., 2014; Lucena et al., 2014, 2015, 2013; Pedrosa et al., 2015).
A Caatinga se estende por 912,529 Km², que ocupam partes de todos os estados do Nordeste do Brasil e região norte de Minas Gerais, e apresentam o habitat perfeito para abrigar sistemas sócio-ecológicos complexos. São registradas 5,218 espécies de plantas (Forzza et al., 2012) e este número tende a aumentar proporcionalmente ao número de estudos direcionados a esta área. Também é a moradia de cerca de 28,6 milhões de pessoas, onde 36% deste total reside nas zonas rurais, desenvolvendo uma relação específica com os recursos naturais que os circundam (Silva, Leal, & Tabarelli, 2017).
Esta relação dos habitantes de áreas rurais com os recursos naturais na Caatinga é marcada por diversos fatores, inclusive pelos agravos de conflitos socioambientais e climáticos, que refletem na antropização que já abrange 63% do território, e no processo de desertificação das zonas consideradas de moderado e alto risco (Torres, Lapola, & Gamarra, 2017). Tais zonas já ocupam 94% da área total do ecossistema (Silva et al., 2017). Estes aspectos somados aos recentes avanços das mudanças climáticas, caracterizam tanto o ecossistema quanto as populações tradicionais como agentes vulneráveis ao clima (IPCC : Summary for Policymakers, 2013).
Em ambientes como a Caatinga, a etnobotânica é considerada subsídio assertivo para que se comprenda a participação das populações tradicionais dentro do processo de conservação. Em um estudo etnobotânico abordando essa temática é explicado que na visão das populações tradicionais, a conservação é mais do que o cuidado para o não desaparecimento de espécies, e sim uma relação mais forte com todo o “funcionamento” do ecossistema para que prossiga garantindo o provimento de suas necessidades e manutenção de suas vidas (Pedrosa, Almeida, Ramos, Barboza, & Lopes, 2019).
Para isso, as pesquisas etnobotânicas, há mais de duas décadas vem se aprimorando sobre métodos de quantificação da importância utilitária das espécies vegetais e como relacionar isso às condições de recursos vegetais disponíveis nas comunidades locais. Um exemplo é o valor de uso (VU) (Phillips & Gentry, 1993a, 1993b) que é uma técnica quantiativa simples que pode ser aplicada em grande quatidade de dados etnobotânicos para avaliar a utilidade relativa das espécies no contexto do conhecimento tradicional, podendo auxiliar no teste de hipóteses, como exemplo a hipótese da aparência ecológica que testa se as espécies mais importantes localmente são as mais disponiveis na vegetação local; estabelecendo correlações entre o conhecimento tradicional e informações ambientais.
Portanto, o presente estudo tem por objetivo descrever e analisar a inter-relação de moradores da comunidade rural de Santa Rita, no estado da Paraíba, Nordeste do Brasil, com as plantas lenhosas úteis, estimando seu valor de uso e importância relativa local.
Procedimentos metodológicos
Área de estudo
O município do Congo está localizado na mesorregião da Borborema e microrregião do Cariri Ocidental (7º47´48" S; 36º39´34" W), no semiárido do estado da Paraíba, Nordeste do Brasil (Fig. 1). Está situado a cerca de 212 km da capital do estado, João Pessoa, e faz divisa com os municípios de Coxixola, Caraúbas, Camalaú e Sumé no estado da Paraíba e Santa Cruz do Capibaribe no estado de Pernambuco (Guerra et al., 2015). Tem população estimada de 4.789 habitantes em um território de 333,471 km² (IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2018). As médias de temperatura são superiores a 24ºC, entretanto, atinge temperaturas mais amenas (média de 15ºC) nos meses de junho e julho (Mendes, Chaves, & Chaves, 2008a). O clima semiárido caracteriza as altas temperaturas e precipitação anual abaixo de 500 mm (Mendes, Chaves, & Chaves, 2008b).
A comunidade rural de Santa Rita, onde o estudo foi realizado está localizada a cerca de 8 quilômetros do centro do urbano. Está subdividida em duas localidades, sendo Santa Rita de Cima e Santa Rita de Baixo, que distam 7 km uma da outra. A economia tem base na agropecuária. Possui templo religioso da Igreja Católica e grupo escolar e transporte para os estudantes até o centro urbano. Os moradores são acompanhados por Agente Comunitário de Saúde e o abastecimento de água é realizado pelo próprio município (Guerra et al., 2015; Lucena et al., 2015).
A população local se caracteriza por se reconhecerem predominantemente como agricultores e pecuaristas tradicionais. Utilizam os recursos vegetais circundantes como matéria-prima para subsidiar grande parte da sua dinâmica de vida e estruturação de suas propriedades. Os recursos vegetais à sua volta estão presentes em fragmentos de mata distribuídos entre trechos de “capoeira” (caatinga aberta), mais encontrados em Santa Rita de Cima; e na Serra da Engabelada que é circundada pelas casas dos habitantes da localidade de Santa Rita de Baixo.
Dados Etnobotânicos
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba (CEP/HULW nº 297/11, Folha de Rosto nº 420134).
Os dados foram coletados entre os anos de 2011 e 2012. O inventário etnobotânico foi realizado a partir de entrevista semiestruturada, realizada com os chefes (homem e mulher) de cada residência, mediante explicação do objetivo do estudo e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram visitadas 100% das residências, excluindo da amostragem aquelas onde os chefes de família se negaram a participar da pesquisa. No total, foram entrevistados 98 informantes, sendo 41 homens com idade entre 22 e 87 anos, e 57 mulheres de 19 a 76 anos.
O formulário continha questionamentos sobre as espécies de plantas lenhosas nativas que os informantes conheciam e as suas formas de uso (R. F. P. Lucena et al., 2012). As plantas foram elencadas dentro de categorias utilitárias, seguindo a literatura específica da área (Albuquerque & Andrade, 2002; R. F. P. Lucena et al., 2012). Também foram incorporadas informações provenientes de observação participante e turnê guiada, técnicas que auxiliam na confirmação dos dados das entrevistas e na identificação das espécies vegetais citadas (Albuquerque, Lucena, Alencar, 2010).
As espécies citadas foram organizadas de acordo com a sua forma de uso em categorias, nomeadas e adaptadas de acordo com literatura específica (Albuquerque & Andrade, 2002, 2002; Lucena et al., 2017) Tais espécies foram coletadas, herborizadas, classificadas e tombadas na coleção do herbário Jaime Coêlho de Moraes (EAN).
A partir dos dados coletados nas entrevistas, foi calculado o valor de uso para as cada espécie, com a seguinte fórmula (Rossato, Leitão-Filho, & Begossi, 1999), adaptada a partir de Phillips & Gentry (1993a, 1993b).
Onde, Ui = número de usos mencionados pelos informantes e n = número total de informantes.
Dados da Vegetação
O inventário da vegetação foi feito por meio do método de ponto quadrante, que consiste em fazer uma cruz com duas peças de madeira, onde cada lado representa um quadrante. Os quadrantes foram registrados em sentido horário, sendo amostrados os indivíduos mais próximos de cada quadrante (Araújo & Ferraz, 2010). Os pontos foram lançados ao longo de transectos de 100 metros, sendo, no total, plotados 50 transectos aleatórios, com uma distância mínima de 10 metros entre cada ponto e de 10 metros entre cada transecto. Em cada transecto foram registrados 10 pontos, totalizando 500 pontos. Quarenta plantas foram registradas em cada transectos, totalizando 2000 plantas amostradas.
Para amostragem fitossociológica foram registrados os indivíduos arbustivo-arbóreos lenhosos vivos com DNS (diâmetro do caule a nível de solo) ≥ 3 cm, tomando-se nota também da sua altura estimada. Cactos, bromélias, lianas e herbáceas foram excluídos da amostragem (Araújo & Ferraz, 2010). Os índices analisados foram densidade relativa (DeR), dominância relativa (DoR), frequência relativa (FRt) e valor de importância (VI) (Araújo & Ferraz, 2010), com o auxílio do software FITOPAC 2.1.As áreas amostrais foram selecionadas de acordo com a indicação dos informantes através de conversas informais. Foi pedido que indicassem as áreas de coleta de recurso. Excluiu-se dos resultados deste estudo as plantas que foram amostradas na fitossociologia, mas que não foram citadas pelos informantes.
Resultados e discussão
Inventário etnobotânico
Registraram-se 56 espécies vegetais úteis, destas 42 foram identificadas, estando distribuídas em 37 gêneros e 20 famílias (Tabela 1). As espécies mais citadas foram Myracrodruon urundeuva Allemão (57 citações), Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S. Moore (56 citações), e Sideroxylon obtusifolium (Roem & Schult.), T. D. Penn (44 citações). Em relação às famílias botânicas, verificou-se que as mais representativas com relação ao número espécies foram Fabaceae (11 espécies), Euphorbiaceae (6 espécies), Anacardiaceae (3 espécies) e Bigoniaceae (3 espécies).
Família / Espécie | Nome vernacular | Usos | Partes das plantas | VU | N° Ind | VI | DeR | DoR | FRt | Área basal |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Anacardiaceae | ||||||||||
Myracrodruon urundeuva Allemão | Aroeira | Cb, Ct, Fr, Me, Ot, Tc, Vt | Ca, Ec, Fo, Fr, Ma, Pc, Se | 2,76 | 3 | 1,61 | 0,15 | 1,19 | 0,32 | 0,24 |
Schinopsis brasiliensis Engl. | Baraúna | Cb, Ct, Fr, Me, Or, Ot, Tc, Vt, Va | Ca, Fl, Fo, Fr, Ma, Pc, Se, | 1,29 | 2 | 0,73 | 0,1 | 0,42 | 0,22 | 0,08 |
Spondias tuberosa Arruda | Umbuzeiro | Al, Cb, Fr, Me, Or, Ot, Tc, Vt | Ca, Ec, Fo, Fr, Ma, Pc, Tb | 2,21 | 2 | 0,83 | 0,1 | 0,51 | 0,22 | 0,1 |
Apocynaceae | ||||||||||
Aspidosperma pyrifolium Mart. | Pereiro | Cb, Ct, Fr, Me, Or, Ot, Tc, Vt, Va | Ca, Ec, Fl, Fo, Ma, Pc, Ra | 3,74 | 117 | 19,3 | 5,85 | 2,88 | 10,6 | 0,59 |
Arecaceae | ||||||||||
Copernicia prunifera (Miller) It.E.Moore | Carnaúba | Ct, Fr, Tc | Fr, Ma | 0,06 | - | - | - | - | - | - |
Syagrus Oleracea (Mart.) Becc | Côco catolé | Al, Fr, Me, Tc | Fo, Fr, Ra | 0,17 | - | - | - | - | - | - |
Bignoniaceae | ||||||||||
Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S. Moore | Craibeira | Cb, Ct, Fr, Me, Or, Ot, Tc, | Ca, Fl, Fr, Fo, Ma, Pc | 5,88 | 3 | 2,61 | 0,15 | 2,14 | 0,32 | 0,43 |
Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl | Pau d'arco roxo | Cb, Ct, Me, Tc | Ca, Ma | 0,18 | - | - | - | - | - | - |
Tabebuia sp. | Pau d'arco | Cb, Ct, Fr, Me, Or, Tc | Ca, Fl, Fo, Ma, Pc | 0,6 | 13 | 3,55 | 0,65 | 1,72 | 1,18 | 0,35 |
Boraginaceae | ||||||||||
Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. | Frei Jorge | Cb, Ct, Tc | Ma | 0,92 | - | - | - | - | - | - |
Burseraceae | ||||||||||
Commiphora leptophloeos (Mart.) J. B. Gillet | Imburana | Cb, Ct, Fr, Me, Ot, Tc, Vt | Ca, Fo, La, Ma, Pc | 1,71 | 2 | 1,53 | 0,1 | 1,22 | 0,22 | 0,25 |
Capparaceae | ||||||||||
Capparis jacobinae Moric. ex Eichler | Icó | Al | Fr | 0,01 | - | - | - | - | - | - |
Cynophalla flexuosa (L.) J. Prese | Feijão brabo/Feijão de boi | Cb, Fr, Tc, Vt | Ca, Fo, Ma | 0,09 | 3 | 0,7 | 0,15 | 0,23 | 0,32 | 0,05 |
Celastraceae | ||||||||||
Maytenus rigida Mart. | Bom nome | Cb, Fr, Me, Tc, Vt | Ca, Fo, Ma | 0,31 | - | - | - | - | - | - |
Choclospermaceae | ||||||||||
Choclospermum insigne | Algodão brabo | Or | Pc | 0,01 | - | - | - | - | - | - |
Combretaceae | ||||||||||
Combretum fruticosum (Coefl) Stunts | Mufumbo | Cb, Ct, Me, Ot, Tc | Ca, Ma, Pc | 0,3 | - | - | - | - | - | - |
Euphorbiaceae | ||||||||||
Cnidoscolus quercifolius Pohl | Favela | Cb, Ct, Fr, Me, Ot, Tc, Va, Vt | Ca, Fo, Fr, La, Ma, Tp | 0,49 | 1 | 0,2 | 0,05 | 0,04 | 0,11 | 0,01 |
Croton blanchetianus Baill. | Marmeleiro | Cb, Ct, Fr, Me, Ot, Tc | Ca, Fl, Fo, Fr, Ma, Tp, Ra, Se | 2,48 | 1400 | 159 | 70 | 38,8 | 49.84 | 7,88 |
Croton rhamnifolius Kunth. | Velame | Fr, Me | Ca, Fo, Ra | 0,07 | 2 | 0,32 | 0,1 | 0,01 | 0,22 | 0 |
Jatropha mollissima (Pohl) Baill. | Pinhão brabo | Cb, Fr, Mr, Me, Ot, Tc, Vt | Fo, La, Ma, Se, Pc | 0,84 | 94 | 12,5 | 4,7 | 1,55 | 6,24 | 0,32 |
Jatropha ribifolia (Pohl) Baill. | Pinhão manso | Mr, Me | Fo, Se | 0,03 | - | - | - | - | - | - |
Manihot cf. dichotoma Ule | Maniçoba | Al, Fr, Tc, Va | Fo, Ma, Tb | 0,26 | 11 | 2,73 | 0,55 | 1,11 | 1,08 | 0,23 |
Fabaceae | ||||||||||
Amburana cearensis (Allemão) A.C.Sm. | Cumarú | Cb, Ct, Fr, Me, Tc | Ca, Fo, Fr, Ma, Se | 0,44 | - | - | - | - | - | - |
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan | Angico | Cb, Ct, Fr, Mr, Me, Ot, Tc, Va, Vt | Ca, Ec, Fo, Fr, Ma, Pc | 2,86 | 36 | 14,6 | 1,8 | 9,81 | 3,01 | 1,99 |
Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. | Mororó | Cb, Ct, Fr, Me, Tc | Ca, Fo, Ma | 0,4 | 9 | 2,26 | 0,45 | 0,84 | 0,97 | 0,17 |
Erythrina velutina Willd. | Mulungú | Ct, Me, Or, Ot, Tc, Va | Ca, Ec, Ma, Pc | 0,3 | - | - | - | - | - | - |
Hymenoca courbaril L. | Jatobá | Al, Cb, Ct, Me, Tc | Ca, Fr, Ma | 0,22 | - | - | - | - | - | - |
Inga sp. | Ingazeira | Cb, Ct, Fr, Me, Ot | Ca, Fo, Ma, Pc | 0,14 | - | - | - | - | - | - |
Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz | Jucá | Cb, Ct, Fr, Me, Ot, Tc, Me | Ca, Fo, Fr, Ma | 1,01 | 1 | 0,65 | 0,05 | 0,49 | 0,11 | 0,1 |
Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. | Jurema preta | Cb, Ct, Fr, Me, Ot, Tc, Va, Vt | Ca, Ec, Fl, Fo, Fr, Ma, Pc, Se | 2,4 | 14 | 15 | 0,7 | 13 | 1,29 | 2,65 |
Piptadenia stipulaceae (Benth.) Ducke | Amorosa | Me | Se | 0,01 | - | - | - | - | - | - |
Poincianella pyramidalis Tul. | Catingueira | Cb, Ct, Fr, Mr, Me, Or, Ot, Tc, Vt | Ca, Ec, Fl, Fo, Fr, Ma, Pc | 2,99 | 198 | 41,7 | 9,9 | 15 | 16,8 | 3,05 |
Senna martiana (Benth.) H.S. Irwin Barneby | Canafístula | Cb, Or, Ot, Tc | Ma, Pc | 0,04 | 5 | 2,86 | 0,25 | 2,29 | 0,32 | 0,47 |
Malvaceae | ||||||||||
Chorisia glaziovii (Kuntze) E. Santos | Barriguda | Or, Ot | Pc, Fr | 0,03 | - | - | - | - | - | - |
Pseudobombax marginatum (A.St.-Hil.,Juss.& Cambess.) A. Robyns | Imbiratã | Ct, Me, Ot, Vt | Ca, Fr, Ma | 0,13 | 1 | 0,23 | 0,05 | 0,07 | 0,11 | 0,01 |
Meliaceae | ||||||||||
Cedrela odorata L. | Cedro | Me | Fo | 0,01 | - | - | - | - | - | - |
Myrtaceae | ||||||||||
Eugenia uvalha Cambess. | Ubaia | Al, Fr | Fr | 0,13 | - | - | - | - | - | - |
Olacaceae | ||||||||||
Ximenia americana L. | Ameixa | Cb, Ct, Fr, Me, Ot, Tc, Vt | Ca, Ec, Fo, Fr, Ma, Pc | 1 | - | - | - | - | - | - |
Polygonaceae | ||||||||||
Triplaris gardneriana Wedd. | Cuaçú | Cb, Fr, Tc | Fo, Ma | 0,05 | - | - | - | - | - | - |
Rhamnaceae | ||||||||||
Ziziphus joazeiro Mart. | Juazeiro | Al, Cb, Ct, Fr, Me, Or, Ot, Tc | Ca, Ec, Fo, Fr, Ma, Pc | 3,02 | 2 | 0,79 | 0,1 | 0,47 | 0,22 | 0,1 |
Rubiaceae | ||||||||||
Tocoyena formosa | Jenipapo brabo | Cb, Me, Tc, Vt | Ca, Ma | 0,07 | 2 | 0,37 | 0,1 | 0,06 | 0,22 | 0,01 |
Sapotaceae | ||||||||||
Sideroxylon obtusifolium (Roem & Schult.) T. D. Penn. | Quixabeira | Al, Cb, Ct, Fr, Me, Ot, Tc, Vt | Ca, Ec, Fo, Fr, Ma, Pc | 3,71 | - | - | - | - | - | - |
Indetermidas | ||||||||||
Indet. 1 | Canela de ema | Fr, Tc | Fo, Ma | 0,02 | - | - | - | - | - | - |
Indet. 2 | Catinga branca | Cb, Ct, Fr, Me | Ca, Fo, Ma, Pc | 0,45 | - | - | - | - | - | - |
Indet. 3 | Guaxumba | Ct, Tc | Ma | 0,11 | - | - | - | - | - | - |
Indet. 4 | Jaramataia | Me | Fo | 0,02 | - | - | - | - | - | - |
Indet. 5 | Jurema branca | Cb, Ct, Fr, Mr, Me, Tc | Ca, Fo, Fr, Ma | 0,44 | - | - | - | - | - | - |
Indet. 6 | Jurema de imbira | Cb, Ct, Fr, Ot, Tc | Fl, Fo, Fr, Ma | 0,56 | - | - | - | - | - | - |
Indet. 7 | Jureminha | Va | Fl | 0,01 | - | - | - | - | - | - |
Indet. 8 | Louro | Ct, Tc | Ma | 0,14 | - | - | - | - | - | - |
Indet. 9 | Pau de serrote | Cb, Ct, Fr, Ot, Tc | Fo, Ma, Pc | 0,1 | - | - | - | - | - | - |
Indet. 10 | Pau leite | Me | Ca | 0,03 | - | - | - | - | - | - |
Indet. 11 | Pau piranha | Me, Tc, Vt | Ca, Ma | 0,1 | - | - | - | - | - | - |
Indet. 12 | Pau preto | Ct | Ma | 0,01 | - | - | - | - | - | - |
Indet. 13 | Quebra faca | Cb, Ct | Ma | 0,02 | - | - | - | - | - | - |
Indet. 14 | Rabo de cavalo | Ct, Ot, Tc | Ma, Fo | 0,21 | - | - | - | - | - | - |
Al = Alimento; Cb = Combustível; Ct = Construção; Fr = Forragem; Me = Medicinal; Ot = Outros; Or = Ornamental; Tc = Tecnologia; Va = Veneno-Abortivo; Vt = Veterinário; Mr = Mágico-religioso. Ca = Casca; Ec = Entrecasca; Fo = Folha; Fl = Flor; Fr = Fruto; La = Látex; Ma = Madeira; Pc = Planta Completa; Ra = Raiz; Se = Semente; Ce = Cera; Tb = Tubérculo. VU = Valor de uso; N° IND = Número de indivíduos; VI = valor de importância; DeR = Densidade relativa; DoR = Dominância relativa; FR = Frequência relativa.
A quantidade de vezes que uma planta é citada está relacionada à sua importância cultural (Rosero-Toro, Romero-Duque, Santos-Fita, & Ruan-Soto, 2018). O elenco de espécies mais citadas para este estudo é semelhante ao encontrado por outros pesquisadores anteriormente em regiões circunvizinhas (Guerra et al., 2012; Leite et al., 2012; Soares et al., 2013). Entretanto, nem sempre a importância cultural irá representar a realidade de extração de uma espécie, para isto, a aplicação de índices e metodologias auxiliares deve ser utilizada.
Neste estudo, as espécies mencionadas pelos informantes foram organizadas em 11 categorias de uso, sendo elas: alimento, combustível, construção, forragem, medicinal, “outros”, categoria que agrupa tipos de uso com baixo número de citações como sombra e bioindicação; ornamental, tecnologia, veneno-abortivo, veterinário e mágico-religioso. As espécies mais citadas se enquadram em no mínimo 7 categorias de uso, demonstrando possuir grande representatividade e diversidade utilitária (ver Tabela 1).
Em relação ao valor de uso (VU) as espécies de maior destaque foram T. aurea (VU = 5,88), Aspidosperma pyrifolium Mart. (3,74) e S. obtusifolium (3,71). Em estudo semelhante, em um trecho de mata ciliar no semiárido do estado do Pernambuco, também foi encontrado o maior valor de uso para T. aurea (Ferraz et al., 2006). Os pesquisadores, da mesma forma que no presente estudo, utilizaram o valor de uso como métrica para validar a importância utilitária das espécies.
Em estudo realizado na região do Sertão do estado da Paraíba, T. aurea também foi identificada como espécie com maior valor de uso (Guerra et al., 2012). Entretanto, os autores também utilizaram um cálculo diferenciado para esse índice, usando literatura específica como base (Albuquerque & Lucena, 2005; Lucena, Albuquerque, et al., 2007; Lucena, Araújo, & Albuquerque, 2007; Lucena et al., 2012), onde as citações de uso são organizadas em suas seções, usos contemporâneos ou atual, e uso reconhecido pela comunidade, mas não efetivo, chamado de uso potencial. Com essa separação, os autores conseguem diferenciar os valores de uso de espécies com usos potencial e atual.
O objetivo desta pesquisa não inclui o cálculo diferenciado do índice valor de uso, como exemplificado acima, entretanto, recomenda-se para estudos futuros, e semelhantes a este, que possam utilizar essa distinção para auxiliar em discussões sobre a dinâmica do uso e conhecimento tradicional acerca das espécies vegetais, o que pode trazer importantes contribuições para a conservação dos recursos naturais.
A exemplo, no estado da Bahia, em estudo etnobotânico e populacional de M. urundeuva, foi concluído que mais de 70% dos informantes faziam o uso atual da espécie (Barros, Nascimento, & Medeiros, 2016), dado gerado a partir de índice diferenciado de valor de uso (Lucena et al., 2012). No caso do presente estudo, M. urundeuva mesmo sendo a mais citada pelos residentes da comunidade Santa Rita, não está entre as espécies que possuem maior valor de uso. Tal fato também foi observado em outro estudo no semiárido paraibano (Soares et al., 2013).
As espécies enquadradas em uma maior diversidade de categorias foram Schinopsis brasiliensis Engl., Aspidosperma pyrifolium Mart., Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, Poincianella pyramidalis Tul, (todas citadas em 9 categorias). As espécies que apresentaram maior número de partes úteis foram C. blanchetianus e M. tenuiflora (ambas com 8 partes úteis) (Tabela 1).
Poucas espécies apresentaram usos múltiplos. Ao classificar as espécies levando em consideração a diversidade de usos, foi observado que apenas duas apresentaram mais de 45 usos, e somente três apresentaram de 40 a 45 usos, enquanto 23 espécies apresentaram de 1 a 5 usos (Fig. 2). As partes mais utilizadas foram a madeira (2624 citações), casca (731 citações) e folha (384 citações) (Fig. 2).
As categorias tecnologia (42 espécies), medicinal (37 espécies), combustível e construção (ambas 34 espécies) sobressaíram as demais em quantidade de espécies citadas. Em relação ao número de citações, se sobressaíram às categorias construção (1.035 citações), tecnologia (1.027 citações) e medicinal (730 citações) (Tabela 2).
Categoria de uso | Número de espécies | Número de citações (%) |
---|---|---|
Alimento | 8 | 240 (5,3%) |
Combustível | 34 | 690 (15,1%) |
Construção | 34 | 1035 (22,6%) |
Forragem | 33 | 443 (9,7%) |
Mágico-religioso | 5 | 8 (0,2%) |
Medicinal | 37 | 730 (16%) |
Ornamental | 11 | 15 (0,3%) |
Outros | 26 | 196 (4,3%) |
Tecnologia | 42 | 1027 (22,5 %) |
Veneno-abortivo | 8 | 100 (2,2%) |
Veterinário | 18 | 87 (1,9%) |
A relação entre as categorias de uso e as partes de plantas mais utilizadas também foram encontradas em demais estudos semelhantes (Guerra et al., 2012; Leite et al., 2012; N. Silva et al., 2014; Soares et al., 2013). O significado cultural das categorias construção e tecnologia justificam a quantidade de citações para uso da madeira. É alertado para a preferência por parte da coleta de madeira verde, de acordo com a finalidade do uso, e que isto implica na retirada de todo o tronco do indivíduo, restando tocos baixos que dificultam o processo de regeneração (Barros et al., 2016). Além do que, ao fazer este tipo de corte, concluíram que os informantes escolhiam os indivíduos pelo diâmetro do tronco, quanto maior o diâmetro, mais procuradas para extração.
O número de citações de casca como parte utilizada é referente a categoria medicinal. Este tipo de resultado é geralmente encontrado em ambientes decíduos, caso das áreas de Caatinga e pode ser relacionado a hipótese da sazonalidade climática (Albuquerque, 2006; Medeiros, Haydée Ladio, & Albuquerque, 2013). Em um estudo comparativo sobre conhecimento botânico local sobre plantas medicinais em sete comunidades rurais do estado da Paraíba, foi encontrado o uso predominante da casca para todas as áreas de estudo, apesar de que as principais espécies utilizadas (M. urundeuva, T. aurea e S. obtusifolium), também possuem grande quantidade de princípios ativos nas folhas (Marreiros et al., 2015).
Inventário de vegetação
Das 56 espécies vegetais citadas nas entrevistas, o levantamento fitossociológico registrou 24, pertencentes a 21 gêneros e 12 famílias. Dos 2000 indivíduos amostrados, 55 não foram identificados.
As famílias de maior destaque em relação ao número de indivíduos foram Euphorbiaceae (1524 indivíduos), Fabaceae (271 indivíduos) e Apocynaceae (117 indivíduos). Entre as espécies, houve destaque para Croton blanchetianus Baill (marmeleiro), com 1400 indivíduos, seguido por Poincianella pyramidalis Tul. (catingueira) (198 indivíduos) e Aspidosperma pyrifolium Mart. (pereiro) (117 indivíduos) (Tabela 1).
Um estudo sobre a presença e uso de espécies da família Euphorbiaceae na Chapada do Araripe (Nordeste do Brasil) destaca a ampla distribuição e uso desta família, inferindo ainda uma maior riqueza de espécies do gênero Croton, especificamente Croton heliotropiifolius Kunth, semelhante ao “marmeleiro” e popularmente chamado de “velame” (Crepaldi, Campos, Albuquerque, & Sales, 2016). Os autores mencionam ainda que as Euphorbiaceae se destacam nos países dos trópicos tanto pela riqueza, quanto pela sua utilização, já documentada, em comunidades rurais, o que pode ser verificado pela diversidade de espécies e usos nessa família em estudos realizados em Serra Leoa (Kanteh & Norman, 2015), Tanzânia (Amri & Kisangau, 2012), Índia (Ravikumar et al., 2011) e África do Sul (Philander, 2011).
A maior disponibilidade desses indivíduos já era explicada em literaturas precedentes a este estudo (Lucena & Alves, 2010; J. S. Silva, Sales, Gomes, & Carneiro-Torres, 2010), que mencionam a família Euphorbiaceae como de característica pioneira, que é facilmente encontrada em ambientes ruderais e antropizados. Também ressaltam que espécies do gênero Croton são amplamente encontradas em diferentes biomas como Floresta Amazônica, Mata Atlântica e Caatinga.
Tratando-se da Caatinga, diversos estudos apontam as espécies C. blanchetianus, P. pyramidalis, A. pyrifolium e Mimosa tenuiflora (Willd) (jurema preta) como as mais abundantes na composição dos estratos lenhosos amostrados em diferentes condições e regiões (Dario, 2017; Lacerda & Barbosa, 2018; Lima & Coelho, 2018; Luna, Andrade, & Souto, 2018; Sabino, Cunha, & Santana, 2016) corroborando com o elenco de espécies encontrado neste estudo.
Sobre a presente pesquisa, apesar de haver registro representativo de famílias e gêneros, o que poderia ser interpretado como indicador de maior diversidade, C. blanchetianus representa 70% dos indivíduos inventariados, o que implica em baixa diversidade e alto nível de antropização local. Em estudo em um fragmento florestal no Ceará foi elucidado que a grande quantidade de indivíduos do gênero Croton, indicam áreas em provável estado de recuperação, por serem espécies pioneiras (Lima & Coelho, 2018). O dados aqui apresentados, reforçam o contínuo e avançado estado geral de degradação da Caatinga, enquanto ecossistema (Silva et al. 2017)
Resultado semelhante foi encontrado ao testar a hipótese da aparência ecológica, em uma comunidade rural na região do Seridó do estado da Paraíba (Lucena et al., 2014). Os autores analisaram dados fitossociológicos de duas regiões distintas, separando em conservada e degradada (onde havia extração de recursos por parte da população local), e encontraram dominância de C. blanchetianus na localidade antropizada da amostra. Da mesma maneira, corroboram com esta mesma lógica os estudos realizados pelo mesmo grupo de pesquisadores em diferentes regiões do domínio Caatinga no decorrer de alguns anos (Carvalho et al., 2012; Guerra et al., 2015, 2012; Leite et al., 2012).
As espécies com maior valor de importância (VI) e frequência relativa (FRt) registrado foram C. blanchetianus (VI = 158,60; FRt = 49,89), P. pyramidalis (VI = 41,68; FRt = 16,79) e A. pyrifolium (VI = 19,28; FRt = 10,55). Em relação à dominância relativa (DoR), se sobressaíram C. blanchetianus (DoR = 38,76), P. pyramidalis (14,99) e M. tenuiflora (13,04) (Tabela 1).
Os dados fitossociológicos apresentados neste estudo, não indicam apenas a degradação dos fragmentos de matas que ficam nas proximidades da comunidade rural de Santa Rita, mas possibilitam demonstrar a situação da disponibilidade de espécies, tornando possível a identificação de disfunções estruturais nas populações ecológicas (Barros et al., 2016).
Os mesmos autores (Barros et al., 2016), ao tratar especificamente da distribuição e uso de Myracrodruon urundeuva Allemão, argumentam que o contexto socioeconômico das comunidades rurais do semiárido influencia na retirada de recursos madeireiros nas matas locais, prejudicando diretamente espécies versáteis (com muitas formas de uso) e os seus indivíduos de maior diâmetro. Propõe, portanto, que os pesquisadores de acordo com os seus objetos de estudo, se atentem para a criação de gerenciamento comunitário, onde se possa fazer uma rotatividade das áreas de extração, permitindo a regeneração e recuperação de zonas com maior nível de degradação local.
Ressaltando que o presente estudo visa analisar a disponibilidade de espécies vegetais admitidas como úteis pelas populações locais, se recomenda que a interpretação dos dados seja realizada mediante a relevância da importância cultural e as formas de uso das espécies vegetais (Barros et al., 2016). Desta forma, é possível inferir melhores conclusões que sirvam como subsídio teórico para planos e medidas para a conservação de espécies de importância econômica, para populações locais, e o equilíbrio das populações ecológicas (Ali, Perveen, & Qaiser, 2015).
Em pesquisa realizada em território indígena Fulni-ô, no estado do Pernambuco pesquisadores utilizaram um outro índice (IPC - Índice de Prioridade de Conservação) que engloba dimensões biológicas e culturais, e utiliza dados sobre área de extração, método e frequência de coleta e importância local, para determinar prioridades de conservação local de plantas (Dzerefos & Witkowski, 2001) Concluíram que o IPC não foi eficiente para a previsão de mudanças relacionando conhecimento tradicional, prioridade de conservação de espécies e o desaparecimento/disponibilidade de espécies raras na vegetação local (Souza et al., 2017).
No presente estudo, duas das três espécies com maior valor de uso (T. aurea e S. obtusifolium), são espécies características de estágios sucessionais mais avançados, enquanto que as espécies mais disponíveis na vegetação são todas pioneiras (C. blanchetianus, P. pyramidalis e A. pyrifolium), isto implica na condução de uma investigação mais específica sobre a maneira como as populações estão utilizando as espécies vegetais, a forma e frequência de extração; para verificar se a característica degradada dos fragmentos inventariados de mata é reflexo da tendência de maior procura de algumas espécies com maior área basal por parte dos habitantes locais, ou apenas reflete o alto grau generalizado de degradação do ecossistema caatinga.
Dentro do aspecto dinâmico do conhecimento tradicional, uma outra possibilidade é que as espécies mais utilizadas podem estar sendo extraídas, mas em novos locais de coleta; ou a degradação, e por fim, baixa disponibilidade das espécies com maior importância utilitária na vegetação local, pode resultar na substituição destas espécies por outras com maior disponibilidade e maior capacidade de regeneração.
Conclusão
Os dados apresentados corroboram com diversos pesquisadores e demonstram a relevância do estudo da estrutura populacional de espécies vegetais úteis, associando variáveis biológicas e culturais, a fim de compreender quais recursos florestais são mais afetados e os motivos culturais disto, podendo contribuir para a manutenção e sustentabilidade desse sistema.
Os parâmetros fitossociológicos, apoiados na literatura, indicam níveis de degradação local, entretanto, os dados se mostram limitados para que se possa inferir sobre o nível de impacto e a sustentabilidade dos recursos vegetais locais. A descrição do saber local se torna instrumento para a preservação dos recursos naturais e subsídio para planos de gestão participativa, priorizando a inclusão das populações tradicionais.
Este estudo indica que a composição da vegetação local na comunidade de Santa Rita é oriunda de altos níveis de antropização, sendo necessário maior detalhamento na dinâmica de uso e retirada dos indivíduos que demonstraram maior significado cultural e valor de uso.